17 fevereiro, 2008

A CONDUÇÃO DO TRAÇADO

A nova nomenclatura francesa dividiu o gênero pressão. A condução do traçado (Conduit du tracé) foi separada dos gênero clássico pressão.

Com isto o grafólogo obtém melhor precisão na avaliação do grafismo.
Contudo este é um tema dos mais difíceis de se observar na grafologia e o novato somente consegue atingir os objetivos com a constante supervisão de um orientador experiente.

Observa-se o comportamento da escrita cursiva da maneira como o traço se desenrola ou se desenvolve. De acordo com o modelo caligráfico, o desenvolvimento cursivo da escrita é efetuado dentro de uma associação e uma alternância:

- plenos que se executam de cima para baixo em flexão num gesto em tensão.
- os que dissolvem ou se desatam são executados de baixo para cima em extensão em um gesto de relaxamento.

A tensão do traço ou do traçado se origina do tônus muscular, como expressão das defesas; do autodomínio e das interações do eu, com as descargas da sensibilidade das pulsões instintivas.

O grafólogo italiano Marco Marchesan dividiu a "tensão" em três níveis:
- Frouxa
Pouca capacidade de atenção e de tomar decisões. Moleza, apatia, reações retardadas; passionalidade; falta de vontade.

- Elástica
Atitude de ajuste rápido ao meio, atenção e concentração sem gastos supérfluos de energia. Orientação de modo equilibrado para atividades dinâmicas ou contemplativas.

- Tensa
Hipertensão e irritabilidade. Autodisciplina rígida; fácil esgotamento e desequilíbrio. Necessidade de estímulos.


Os Estudos de R. Saudek
Na prática, o grau de tensão do traço tem relação direta com o coeficiente de fricção por deslize (fricção da ponta do instrumento sobre o papel).
R. Saudek indica que a pressão na escrita aumenta em proporção com a tensão. Eis porque se pode determinar o grau de tensão examinando o grau da pressão.

Quanto mais as superfícies de contato são lisas, mais a fricção é diminui. O caso limite é o onde a fricção seria nula, o que nunca ocorre na prática.
A tensão do traço é mais elevada na formação dos traços descendente, ou seja, traçados escritos na direção do escritor; neste caso estão de acordo com os gestos de contração; em franca oposição aos traços executados no sentido oposto (extensão, relaxamento) que se afastam do corpo do escritor.
Como a escrita reflete a disposição interior de quem escreve; nada mais natural que ela se revele nos níveis de tensão.

A classificação inicial de R. Saudek:-
- Escrita como tensão normal.
- Escritas hipertensas.
- Escritas hipotensas.
- Escritas mistas, alternadamente equilibradas, hiper ou hipo.

A escola francesa dividiu este gênero em cinco tipos de escritas:
Hipotensa
Flexível
Firme
Contraída
Hipertensa

É o que veremos no próximo artigo.


"Uma ciência que não progride não é uma ciência. Estou feliz ao fornecê-los por meio desta dádiva, como uma ferramenta de trabalho preciosa. Este horizonte, de proporções infinitas, que eu estou abrindo até os futuros grafólogos." Michon, sobre os signos complexos.

13 fevereiro, 2008

Escritas de cegos


Desde o início do século passado alguns médicos estudaram a escrita pessoas cegas. Todavia as melhores pesquisas ocorrem depois da década de 20; muitas delas, como a descrita a seguir, foram filmadas e os resultados analisados durante anos.

Robert Saudek; no livro "Experiments of handwriting". Books Profissionals. Sacramento, Califórnia; 1978; destaca dois tipos de escritas:
"Blind" Handwriting.
- Artificial.
Produzidas por pessoas que podem ver; contudo estão no escuro ou fecham os olhos. Nas experiências executada pelo grafólogo Saudek as pessoas abriam os olhos.

- Pessoas genuinamente cegas.

O autor faz um estudo dos fatores que ocorrem na escrita das pessoas que perderam a visão. Como por exemplo, o funcionamento normal do pulso e da musculatura dos braços, mãos e dedos; da memória visual, etc.
Diz ao autor que a pessoa ao ficar cega; diante das novas circunstâncias o ato de escrever se torna um tormento e as formas produzidas divergem essencialmente da prévia escrita automática (que possuía antes). Depois, mesmo em condições crônicas, o organismo se adapta e os movimentos das mãos e dos dedos vão se tornando automáticos; e cada vez mais ficando perto da escrita anterior.
Quando a cegueira é total as distorções na escrita são extraordinárias; contudo elas aparecem muito mais na formação das letras do que no espaço entre as palavras no texto. Os espaços entre as palavras tendem a se ampliar e são muito grandes.
O espaço inicial entre as linhas se amplia no início, pois o escritor fica ansioso para não misturá-las e para o final do texto este espaçamento do eixo vertical se tornar irregular. A direção das linhas se torna bastante ascendente.
Todos estes erros de espaçamento; tanto no plano horizontal como no vertical tem uma única causa: o escritor está privado de seu senso de orientação espacial sobre a superfície do papel.
As primeiras informações que ele recebe do espaço que vai utilizar são táteis e sua memória visual diz para ele o lugar onde começar a escrita; a primeira palavra ou linha.
Embora ainda tenha pleno controle das funções e possa executar automaticamente os movimentos com as mãos e dedos; o escritor está privado do poderoso auxiliar que é o controle visual e isto influi de maneira decisiva na precaução com que executa os movimentos.
Certamente que grandes espaçamentos não afetam a legibilidade da escrita; mas o pequeno espaçamento o faz de modo extraordinário. Assim existe o exagero do espaço e o medo de uma vez levantada a caneta do papel ela não encontre o mesmo fio condutor do traço anterior.
A posição do braço passa a ser utilizada para orientar a posição do espaço na página. Neste, como em outros pontos, Saudek; faz uma descrição detalhada de cada um dos procedimentos.
Posteriormente fala dos ideais de representação que a pessoa retém na escrita antes da pessoa ficar cega. Estuda os mecanismos de expressão; da imagem antecipadora de Klages. Mas isto é assunto para outro artigo.

06 fevereiro, 2008

A Forma
A forma é a característica mais intencional da onda gráfica. (Vels) Nela o consciente se expressa em quase sua totalidade. É certo que partimos de um modelo caligráfico estabelecido e assim aceitamos ou passamos a criar nossas próprias formas.
Aqui devemos novamente estudar os grandes autores, mas sempre dentro do contexto global de cada obra.
Mais uma vez voltamos ao início; é impossível estudar a Forma sem o Movimento, o Traço e o Espaço.

Amparo Botella afirma que a forma está ligada ao movimento como o jóquei ao cavalo. O estudo da interação deste binômio mostrará facetas da personalidade do escritor muito além do que o grafólogo pode pensar.
Todavia a Forma precisa (obrigatoriamente) ser estudada com o Espaço, Movimento e o Traço; como evoluir e se coordenam as palavras, frases, letras etc. Nesta avaliação deve ser abordada a maneira como todos se integram uns com os outros e entre si; aos pares e de forma trina; mas principalmente global.
A fig. 02 mostra isto. Pode estudar seguindo a linha de raciocínio: Forma- Movimento-Traço-Espaço; inverter Espaço-Traço- Movimento-Forma; etc. Avaliar entre duas e três e depois integrá-las aos demais.

A obra “Grafologia Expressiva” Ed. Ágora, 2006; foi escrita com objetivo de mostrar a importância dos gêneros e a necessidade maior de trabalhar com síndromes, para depois entrar nestes estudos.


O Traço
É a marca que deixamos no papel; trata-se do aspecto mais intangível e inimitável da onda gráfica. É aqui que nossa psicomotricidade se manifesta em sua plenitude. Na verdade o termo traz diversas ambigüidades e é muito confundido pelos grafólogos.
Deve ser avaliado de acordo com o relevo, o calibre; a pressão; a tensão etc.
A obra de Hegar; o estudo dos graus de tensão de Pophal, as teorias de Pfanne devem ser estudadas com afinco.
Sendo repetitivo: suas correlações com os outros aspectos; Movimento, Forma; Espaço.

Pophal já citava que “o traço é para o traçado aquilo que a matéria é para a forma”.
“O traço revela a substância; a “matéria prima psíquica”; o traçado mostra como a personalidade usou e orientou esse material.” Gille-Maisani.

Nunca é demais ser repetitivo; a interpretação do traço Apoiado; por exemplo; é muito pobre se não estudarmos como o movimento o conduz; como o movimento se adapta as formas da escrita e como as formas se integram ao espaço.
O descrito acima é a grafologia capaz de entender a dinâmica da personalidade do escritor.
Infelizmente poucos grafólogos no Brasil se dão conta disto e pior, insistem em trabalhar com teorias do século passado. Muito pior é quando não vêem a validade deste estudo; reconhecido em todos os países que se prezam por uma grafologia séria.

O livro “Grafologia Expressiva” Ed. Ágora; procura mostrar com profundidade a importância do traço no estudo da grafologia, especialmente para o iniciante na matéria. Em “A grafologia no recrutamento e Seleção de Pessoal”. Ed. Ágora; estudamos os graus de tensão de Pophal e algumas teorias de tensão relacionadas à liderança e motivação.

Para que o nosso estudo fique mais completo, está em adiantado estado o livro “Psicodinâmica do Traço na Grafologia”.
Creio que com isto possa dar ao grafólogo brasileiro uma visão mais abrangente da grafologia; especialmente com estudos de escritas brasileiras da atualidade; exemplos tirados de uma população de mais de 60.000 grafismos; abrangendo cerca de 15 estados brasileiros e mais de 150 cidades.





Final
É óbvio que a grafologia deve abranger o estudo das principais Síndromes Gráficas; do Nível de Forma e, a Organização e a Harmonia de Crépieux-Jamin. Além é claro das teorias de Moretti.
Estes estudos estão focalizados nos meus livros descritos anteriormente.

Afirmo de forma categórica que sem estes conhecimentos e outros mais específicos, não se pode realizar o estudo grafológico da escrita para perceber a verdadeira dinâmica da personalidade; torna-se impossível descrever precisamente o Perfil do escritor. Fica muito ”pobre”; para dizer o mínimo.
Portanto, é o caso de se fazer uma pergunta:
- Sabemos de tudo isto?
Mais ainda; questionar o grafólogo que vai nos ensinar se ele tem esta capacidade para descrever todas as teorias necessárias para que o aluno conheça grafologia com profundidade.

São precisos inúmeros exercícios de conjugação de espécies e avaliação delas dentro dos quatro parâmetros traçados. Isto não se consegue com exemplos de escritas que não existem mais.
Todo este conhecimento e prática requerem no mínimo dois anos de estudo profundos e acompanhamento constante; sem os quais o futuro grafólogo dificilmente exercerá com plenitude suas funções.

04 fevereiro, 2008

A escrita do António é lenta


Escrita com grau elevado dislexia, de aluno do 5º, com 12 anos
António, nome fictício, tem 12 anos, é um aluno com dislexia, repetente e com fraco aproveitamento escolar.
Sabendo eu que as crianças com uma escrita lenta apresentam geralmente mais dificuldadesdo que aquelas com uma escrita mais rápida, resolvi realizar provas da velocidade da escrita, junto deste aluno, para confirmar se era lenta ou rápida, comparada com outras.
Lembro que a velocidade da escrita está, geralmente, relacionada com rapidez de reacção, com o potencial do indivíduo, com a sua estrutura biotemperamental, com a intensidade de vida, com a agilidade de actuação, de pensamento, de imaginação e com a sua vivacidade. A prova foi realizada individualmente. Disse ao António que escrevesse o mais depressa possível, durante três minutos, a seguinte frase: As aulas estão quase a chegar ao fim. Frase tem vinte e nove letras variadas (com ovais, bucles, pernas e hastes). Recordei-lhe que não colocasse o ponto no fim da frase para não perder tempo. No início duma folha A4 pautada, escreveu uma vez a referida frase para se familiarizar com as palavras, para não precisar de olhar para o quadro e não perder tempo. Disse-lhe, ainda, que poderia utilizar o instrumento de escrita que desejasse; ele escolheu uma esferográfica azul. Cronometrei três minutos. O António realizou a prova, escrevendo sempre a frase inteira em cada linha. Como é esquerdino teve uma dificuldade acrescida em progredir da esquerda para a direita. O mais natural seria escrever da direita para a esquerda. O aluno colaborou bem e esforçou-se, escrevendo muito mais depressa do que costumava escrever nas aulas. Conseguiu fazer uma média de 89 letras por minuto. Média alta em ralação à lentidão normal da sua escrita, mas baixa se o compararmos com a outros colegas do 5.º e 6.º anos de escolaridade.
Em duas turmas com alunos de 10/11 anos, a média de letras por minuto dos rapazes foi de 112 e a das raparigas, de 123. E, em duas turmas com idades entre os 11/12 anos, os rapazes obtiveram 113 e as raparigas 117. Será também interessante, mais tarde, comparar a escrita das raparigas com a dos rapazes quanto à velocidade e a outros géneros. Tarefa que está nos meus objectivos.
Nesta e noutras amostras da escrita do António, nota-se uma grande falta de ritmo e muitos sinais de disgrafia. Uma análise pormenorizada poderia levar-nos a detectar outras tendências. Porém, o que interessava neste estudo era verificar o grau de velocidade. A escrita foi classificada como lenta, uma vez que este aluno já completou 12 anos, ainda frequenta o 5º ano e a sua rapidez é semelhante à dos alunos do 3º ano de escolaridade e com 9 de idade. Mais tarde, quando a população testada aumentar, terei dados mais fiáveis.
Muitos grafólogos, incluindo os da escola francesa, rconhecem que é difícil avaliar a velocidade a posteriori. Mas é possível encontrar traços distintivos entre uma escrita normal e uma rápida. Nos testes que efectuei, verifiquei diferenças quanto à pressão, à forma, à dimensão, ao movimento, à inclinação, à ordem, à continuidade e em certos gestos tipo.
Noutra ocasião, divulgarei, neste Blog os resultados duma amostragem com cerca 2500 alunos do 1º ao 12º anos de escolaridade, efectuada nos anos lectivos de 2005 e 2006 sobre a velocidade da escrita. Espero aumentar a população testada durante o corrente ano 2008, a fim de que os resultados sejam mais representativos. Para já foi interessante constatar que a velocidade média da escrita em turmas com melhor aproveitamento escolar era superior à de outras com mais fraco rendimento.

03 fevereiro, 2008

Generalidades

A escrita, porque é o resultado visível e material de actos mentais, espelha a personalidade do escrevente, reflectindo no todo ou em parte o seu interior.
Não existem duas escritas completamente iguais, uma vez que não há nenhum indivíduo que seja totalmente idêntico ao outro.
A análise da escrita pode ser um excelente meio de nos conhecermos e darmo-nos a conhecer. Se a análise for feita por um profissional credenciado, o um grau de fidelidade dos testes grafológicos será igual ou superior ao dos vários testes projectivos actualmente existentes. E ainda apresenta a vantagem de o material para análise poder estar à nossa disposição, mesmo na ausência da pessoa que o produziu.
Mas convém prevenir que a escrita não revela tudo, nem duma maneira fácil nem total, porque não é uma arte de adivinhação, mas uma ciência humana. E como tal tem os seus limites.
A abordagem da personalidade humana é sempre complexa e requer interdisciplinaridade, seriedade e rigor.
Não basta olhar superficialmente para uma escrita, para a sua forma, e tirar ilações. É necessário um estudo aprofundado dos vários géneros e subgéneros. E depois de analisados vários documentos e ponderado o significado dos diferentes traços, é imperativo avaliar a sua relevância, no devido contexto e num todo, porque a personalidade de cada um, apesar de ser multifacetada, é uma unidade que não pode ser compartimentada nem fragmentada.

02 fevereiro, 2008

Bem-vindos todos os grafonautas

Todos quantos quiserem ler estas opiniões sobre grafologia e desejarem apresentar sugestões são sempre bem-vindos.
A Grafolgia ainda está pouco divulgada em Portugal e são raríssimas as obras de carácter cîentífico escritas originariamente em Língua Portuguesa.
Que a Grafologia ou Psicologia da Escrita, seja ensinada na Universidade, à semelhança do que acontece noutros países.
Seria importante que nos organizássemos e que esta ciência se instituisse entre nós.
Este blog poderá servir para a troca de ideias e de experiências. É preciso abrir caminho.

01 fevereiro, 2008

Estudo da Grafologia

Terceira Parte




O pequeno resumo adiante; mostra todo o potencial envolvido nas afirmações anteriores.

O Movimento

Deve ser compreendido; não só em si, mas sua dinâmica em relação aos demais elementos da escrita. Trata-se do aspecto mais instintivo do gesto gráfico; nele estão contidas as motivações do escritor.
São estudados os 10 tipos de movimentos; neles incluídos os cinco tipos propostos por Gobineau:
• Imóvel
• Flutuante
• Fluído
• Bloqueado
• Dinâmico.

Propostos por Rena Nezzos:
1. Estático, ou imóvel
2. Flutuante
3. Inibido, contido
4. Controlado
5. Fluído ou sem esforço
6. Vibrante, efervescente
7. Dinâmico
8. Propulsivo
9. Retardado
10. Revirados para a esquerda

O quatro tipos de movimentos propostos por Suzanne Bresard: L´écriture empreinte de l´homme.
• Propulsados para a direita
• Propulsados para a esquerda
• Enrolados
• Justapostos

Nota-se que devemos avaliar o movimento com os demais aspectos da onda gráfica. Como por exemplo:
Hélène Gobienau e Roger Perron utilizaram o termo clássico na grafologia para qualificar o resultado do equilíbrio entre forma e movimento; fluído (do francês coulante). (Danièle Dumont no livro “Les bases techiniques de la Graphologie” Ed. Delachaux et Niestlé, Paris, 1994.)

Existem escritas fluídas com:
• Movimento e forma fortes
• Movimento e forma médios
• Movimento e forma fracos

O livro “Psicodinâmica do Espaço na Grafologia”, Ed. Vetor 2007; apresenta o estudo do espaço e do movimento na escrita; descreve as teorias de Pulver, Heiss, Pophal e outros grandes mestres da grafologia mundial.

Na próxima postagem vamos falar de espaço.
Tenham um ótimo carnaval.
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