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30 junho, 2012

Comentários sobre a rubrica


A propósito dos 433 comentários feitos ao artigo sobre a rubrica. É um número demasiado significativo para que deixe de voltar a responder a todos leitores interessados neste tema. Trata-se do reconhecimento da importância da imagem que a nossa escrita, mais precisamente a rubrica, transmite de nós próprios aos outros.
São leitores de diferentes profissões, idades, sexos ou níveis sociais. A preocupação com a própria imagem é legítima. O modo como nos apresentamos perante a sociedade não é indiferente para a criação do conceito que os outros desenvolvem sobre nós. À mulher de César não basta ser honesta, é necessário parecê-lo.  As pessoas veem mais facilmente o que está perante os seus olhos do que o interior, veem melhor as aparências do que a realidade.
Tudo isto para deduzir que é lícita a preocupação com a própria rubrica, como é lícito vestir-se e arranjar-se bem. Evidenciar os dotes e qualidades que cada qual possui é uma atitude positiva.
Voltando, de novo, à questão da rubrica. Entende-se, normalmente, por rubrica qualquer traçado que completa a assinatura ou se apresenta isoladamente. Ou seja, uma rubrica não é formada por letras legíveis, mas é constituída por rabiscos ou gatafunhos.
Cada pessoa tem a sua própria rubrica, como tem o próprio modo de andar, de comer, de rir e de vestir. A melhor atitude é a mais natural. O que é feito por nós tem mais valor que o que é copiado. Um original, por mais fraco que pareça, é sempre melhor do que uma cópia. Os pedidos que os leitores me fazem para os ajudar a criar ou a alterar a própria rubrica, como se eu fosse assessor da sua imagem gráfica, são legítimos. Mas eu digo e repito que não existem rubricas feias nem desinteressantes, como não há escritas más ou escritas boas.  

 Assinatura, com predominio do gesto curvo, da princesa Diana
                                                                  
  Os seus gestos redondinhos poderão significar amabilidade e os traços angulosos, precisão e rigidez. Mas uns e outros são necessários, porque nós próprios somos diferentes uns dos outros e assumimos diferentes papéis na sociedade.                 

Todavia, a rubrica mais simples e a mais singela será sinal de maior equilíbrio do que outra espampanante e espalhafatosa, mas nada disto se pode afirmar fora do contexto grafoescritural.


Assinatura excêntrica de Michael Jackson

23 dezembro, 2011

Grafologia e Logotipos

Um logotipo é como uma assinatura institucional, é uma forma de grafar uma marca.
O logotipo da Molaflex, por exemplo, contém a letra “m” minúscula manual engrandecida. Trata-se de autêntica mola na horizontal. Se a rodarmos 90º para a direita ou para a esquerda, transforma-se numa mola helicoidal.

É apenas a título de exemplo, sem qualquer intuito publicitário, que faço esta curta análise, com base numa fotografia que tirei a um estabelecimento junto ao Pavilhão Rosa Mota, no Porto.

Esta empresa preza-se por apresentar colchões com uma base firme e confortável que permita um “descanso reparador e revitalizante”.
Nesta análise pretende-se verificar até que ponto o logotipo adotado pela empresa reflete as caraterísticas que, supostamente, o produto deveria conter – flexibilidade, elasticidade e firmeza.  

Para conseguir este objetivo, nada melhor do que analisá-lo à luz dos principais parâmetros da grafologia: forma, dimensão, pressão, velocidade, direção, inclinação, continuidade e cor.

A forma da letra é arredonda, o que implica flexibilidade, suavidade, tranquilidade, boa adaptação ao meio, calor,  "necessidade de sonho"  e delicadeza. O predomino de ângulos ou de arcadas, pelo contrário, sugeriria rigidez, inflexibilidade, conflitualidade ou frieza

Quando à dimensão, a 1ª perna do “m” é mais maior que as outras duas, sugerindo auto-estima elevada, confiança e orgulho: fatores essenciais a qualquer marca comercial que se queira implantar no mercado.

A pressão é firme, sinal de energia, de autenticidade, de segurança em si mesmo, mas como se apresenta deslocada ou invertida pode ter uma conotação negativa, sendo sinónimo de insegurança ou de rebeldia.

A velocidade é lenta, porém, num contexto positivo, significa ordem e autocontrolo.

A direção surtiria mais efeito se a linha de base fosse horizontal ou ascendente; sendo ligeiramente descendente, pode implicar falta de energia e fadiga.

A inclinação pouco pronunciada para a direita é indício de acolhimento.

A continuidade apresenta-se sem fragmentações, partindo da zona inferior (do concreto) e terminando na zona superior (do ideal). 

A cor branca sugere perfeição e silêncio, contrasta com um fundo vermelho que exprime agressividade. A cor azul, apesar de ser uma cor fria, seria uma boa opção, porque está associada ao bem-estar e tranquilidade, caraterísticas que são também apanágio dos colchões Molaflex.

Conclui-se que, de modo geral, este logotipo, consciente ou inconscientemente, reflete a imagem que a empresa pretende fazer passar.

19 dezembro, 2011

Velocidade da escrita versus velocidade da leitura (continuação)


Interpretação e ilustração dos resultados


Distribui os indivíduos por quatro escalões, de acordo com os resultados alcançados aquando da realização dos testes de velocidade de escrita:

·       o 1º escalão é formado  pelos indivíduos que fizeram entre 81 e 100  letras por minuto;

·       o 2º escalão é formado pelos indivíduos que fizeram entre 101 e 120 letras por minuto;

·       o 3º escalão é formado pelos indivíduos que fizeram entre 121 e 140 letras por minuto;

·       o 4º escalão é formado pelos indivíduos que fizeram entre 141 e 160 letras por minuto.



Os escalões da velocidade de leitura são encontrados em correspondência com os da velocidade da escrita. Por exemplo: a quantidade de sílabas lidas por cada indivíduo que escreveu entre 81 e 100 letras por minuto é colocada no 1º escalão da velocidade de escrita; a quantidade de sílabas lidas por cada indivíduo que escreveu entre 101 e 120 letras por minuto é colocada no 2º escalão da velocidade de escrita; e assim sucessivamente.

Se, no final, se verificar que a média das sílabas lidas por minuto aumenta gradual e proporcionalmente à média das letras escritas por minuto, pode deduzir-se que existe uma correlação evolutiva entre a escrita e a leitura.

Figura A – Quadro comparativo da velocidade da escrita e da leitura



No quadro da Figura A, podemos ver a quantidade de letras escritas por minuto, os respetivos escalões e a correspondente quantidade de sílabas lidas.

No final de cada coluna, observamos as médias alcançadas por cada escalão: as médias da escrita estão a cor preta e as médias da leitura estão a cor vermelha.

Em relação à media geral da escrita e da leitura, os indivíduos testados são capazes de ler, praticamente, duas vezes mais sílabas do que de escrever  letras.  Por minuto, conseguiram fazer uma média de 127,8 letras e ler 253,2 sílabas.

Um aluno não quis ler, dando a justificação que lia muito devagar, o que, de facto, correspondia à verdade. Depois, confirmei que este indivíduo, também na escrita, fizera apenas 64 letras por minuto, número bastante abaixo da média.

Entre os 57 indivíduos estudados, houve, apenas, um que fez 168 letras por minuto e leu 314 sílabas. Um único caso não faz regra nem justifica a criação dum 5º escalão, mas serve para confirmar a dependência e relação entre o desenvolvimento da velocidade da escrita e da velocidade da leitura.

Observei, também, o sucesso escolar dos alunos e verifiquei que os bons resultados a Português correspondiam a maior velocidade de leitura.

 Um aluno, que confessara ter lido muitos livros, encontrava-se no 2º escalão de escrita, mas lia tão depressa como os colegas que se encontravam no 4º escalão de leitura.

30 novembro, 2011

Velocidade da escrita versus velocidade da leitura

Premissas
A criança começa por reconhecer algumas palavras, utilizando a configuração total e, mais tarde, passa a interiorizar e a utilizar a correspondência grafema-fonema.
A aprendizagem da leitura pressupõe o conhecimento das regras da linguagem escrita.
Aprender a ler a e a escrever é fundamental para compreender e interpretar o ambiente que a rodeia e o mundo em que vive.
A observação, da maneira como a criança escreve e lê, pode ajudá-la a desenvolver-se ou a superar determinadas dificuldades.
Todas as atividades escolares pressupõem o domínio da linguagem oral e escrita.
A criança, ao estabelecer uma conexão entre as palavras impressas e as atividades de escrita e de leitura (associando os sons às palavras), busca a construção dum todo.
A aprendizagem da escrita e da leitura constitui um processo mútuo, contínuo e dinâmico.

Método e aplicação do teste
Quando da realização dos testes da velocidade da escrita, junto dos alunos do 2º ciclo, intuí que aquela poderia estar relacionada com a velocidade da leitura, pois, tinha conhecimento da existência de discentes que eram muito mais lentos que outros a ler e escrever.
Para confirmar estas minhas suposições, aproveitei duas aulas de Estudo Acompanhado, quando estas estavam a ser lecionadas por dois professores.
Em quatro turmas – duas turmas do 5º ano e duas do 6º ano –, abrangendo um total de 57 indivíduos, fiz testes individuais de leitura, com aqueles que já tinham realizado o teste de velocidade da escrita.
Selecionei um texto com uma mensagem compreensível, agradável e adaptada ao nível etário dos alunos testados. A escolha recaiu sobre o livro “O principezinho” (1ª página do capítulo VIII).
Para mais fácil contabilização das sílabas lidas por cada indivíduo, tomei nota da quantidade de linhas do texto e da quantidade de sílabas por que era constituída cada linha.
Baseei este teste na leitura de sílabas e não de letras por aquelas constituírem a unidade mais pequena de pronúncia. A opção por palavras seria menos significativa porque os vocábulos são de dimensões muito diferentes.
A leitura começava no início do texto, pronunciando todas as sílabas e respeitando as pausas correspondentes aos vários sinais de pontuação.
Durante um minuto, cada aluno lia, em voz baixa, o mesmo texto, de modo que os colegas não ouvissem e não se familiarizassem com a história, nem com os termos empregados pelo autor.
Cronometrado um minuto de leitura rápida, eu anotava a última palavra lida por cada sujeito testado.
O gráfico mostra  a evolução e a correspondência entre a  velocidade da escrita e a velocidade da leitura.

Após a realização dos testes, fiz o tratamento dos dados recolhidos. 

(A interpretação dos resultados será divulgada no próximo artigo)

13 novembro, 2011

Escrita dos homozigóticos


Escrita do gémeo esquerdino, do 8º ano, com 13 anos e 7 meses
Sabendo que cada pessoa é um ser único e irrepetível e sabendo que, por esse facto, não há duas escritas iguais, serão os grafismos dos gémeos monozigóticos idênticos ou terão elevadas semelhanças?

Analisei a escrita de dois gémeos masculinos univitelinos, com 13 anos e 7 meses de idade, que frequentavam a mesma turma do 8º ano.
Notei, de imediato, uma primeira grande diferença: um era destro, outro era esquerdino.


O teste foi realizado simultaneamente, quando ambos assistiam a uma aula e cada um se sentava numa mesa diferente.


Pedi-lhes que, durante um minuto, escrevessem, o mais rápido possível, a frase “As nossas palavras são como um cristal”.


Logo verifiquei uma segunda diferença: o destro conseguiu fazer 192 letras por minuto e o esquerdino 185.
                                                                                                                Escrita gémeo destro, do 8º ano, com 13 anos e 7 meses
Outras diferenças se juntaram: o espaço deixado pelo esquerdino entre linhas e entre palavras é menor, a angulosidade é mais evidente, a diferença de pressão é notória, as barras dos “tt” do esquerdino são em diagonal ascendente e as do destro  em
diagonal descendente.
                                                                                          
A margem esquerda no esquerdino é bastante mais pequena que a do destro. O esquerdino assinou com maiúsculas tipográficas desligadas e o destro, com carateres cursivos.
Algumas semelhanças se destacam, nomeadamente, a dimensão da zona média, com cerca de 1,5 mm de altura, a inclinação para a direita, os “AA” maiúsculos que apresentam forma parecida, ambos os irmãos apresentam uma certa dificuldade em desenhar o conjunto “vr” da palavra “palavras”, nos dois predominam as letras ligadas. As hastes do “pp” são semelhantes, quanto à forma, quanto à dimensão e quanto à pressão exercida.
Muitas outras semelhanças e dissemelhanças poderiam ser apontadas. Mas as marcas atrás referidas são já suficientes para atestar que nem os gémeos univetelinos se expressam graficamente de maneira igual.

17 outubro, 2011

A escrita dos esquerdinos e dos destros


Velocidade dos esquerdinos ( a azul)  e dos destros (cor-de-laranja) por anos de escolaridade
         
Analisei a escrita de um grupo amostra, constituído por 102 esquerdinos, de ambos os sexos, desde o 1º ao 9º ano, nos aspetos de velocidade, angulosidade, dimensão, direção, inclinação, ligação, tipo de letra e concentração/extensão do enunciado.

Analisei, nos mesmos aspetos, um grupo de controlo, formado por igual número de indivíduos destros, com  idênticas caraterísticas quanto a idade, sexo e ano de escolaridade.

Os dados estatísticos, convertidos em médias e percentagens, levaram-se a concluir que:
·       A percentagem de esquerdinos é mais elevada no sexo masculino do que no feminino.
·       Os esquerdinos tendem a ser um pouco mais lentos que os destros.

·       A letra dos esquerdinos apresenta-se ligeiramente mais angulosa que a dos destros.

·       Nos primeiros meses de escolaridade a criança desenha carateres grandes. No final do 1º ano, as letras tornam-se mais pequenas, mas voltam a ganhar uma maior dimensão na fase da adolescência, especialmente junto das raparigas.
·       Não existem sinais claros para afirmar que a direção da linha dos esquerdinos é mais sinuosa que a dos destros.
·       Não se confirmou a tendência dos esquerdinos para inverterem a escrita, colocando-se em igualdade com os destros.
·       A ligação é uma constante, especialmente nos primeiros anos de escolaridade, porque faz parte do modelo que é ensinado na escola. A escrita dos esquerdinos apresenta o mesmo grau de ligação que a dos destros, sendo a destes ainda mais desligada nos anos mais adiantados.
·       Quanto à largura da margem, nos esquerdinos predomina a margem esquerda grande e nos destros a margem esquerda pequena.
·       O tipo de escrita ensinado é o cursivo. Por esse motivo, nos primeiros anos de escolaridade não se encontram quase nenhumas escritas tipográficas. Mais tarde, após a interiorização do modelo, o escrevente introduz carateres de imprensa.
·      Na medição do comprimento da frase, escrita manualmente, não se verificaram diferenças significativas entre esquerdinos e destros. As meninas é que se estenderam mais que os rapazes.
No caso de provada indefinição ou ambivalência na lateralidade e avaliando os naturais interesses e propensões do escrevente, será aconselhável a opção pela mão direita.
Com uma população mais significativa de esquerdinos, aumentaria a possibilidade de obter conclusões mais fortes, quer na distinção de diferenças, quer no estabelecimento de semelhanças.




26 setembro, 2011

Intuição e razão na análise grafológica

Intuição é criação individual, interna e subjetiva, mais ligada à arte. A razão é universal, externa e objetiva, mais ligada à ciência. Ambas se completam: uma é vida e pende para o coração, outra é o farol que a ilumina e rege-se pelo intelecto.

O grafólogo deve utilizar estas duas ferramentas que estão à sua disposição. O ritmo da escrita é captado pela intuição, mas explicado pela razão. São dois tipos de linguagem que se devem interpenetrar dialeticamente sob a forma de inteligência intuitiva para extrair o que de mais original se encontra no gesto gráfico.
Tivemos, no passado, e temos, atualmente, grafólogos dotados de uma grande intuição, tanto a nível da perícia da escrita manual como na vertente grafopsicológica. Entre eles destaca-se G. Moretti. Este autor italiano, no seu método, utilizou como poucos a capacidade intuitiva para desvendar importantes aspetos dentro da análise do grafismo, mas reconheceu que a qualidade dos sinais descobertos tinha que ser completada com a quantificação dos seus atributos.

Registo num livro de honra: esta escrita filiforme do hospede de uma casa de turismo revela uma tendência para improvisação, diplomacia e subtileza.
Uma ciência humana como esta não se pode basear apenas na intuição. Por mais profunda que esta seja, são necessários rigor e objetividade na análise e na organização dos conteúdos, de modo a tornarem-se, logicamente, transmissíveis.
A intuição é semelhante a um território sem marcos e sem fronteiras, a inteligência delimita e fragmenta para depois voltar a sintetizar.
Apesar de se reger por princípios científicos, a grafologia não é uma ciência exata, como não são exatas as ciências afins: psicologia, psicanálise, medicina, pedagogia, fisiologia ou sociologia. Não pode confundir-se com um teste ou com uma técnica, porque tem um objeto próprio: o estudo e o estabelecimento da relação da escrita com o escrevente ou de uma escrita com outras.
O seu grande objetivo é a compreensão da personalidade humana. E no âmbito judicial presta um excelente serviço ao apoiar o tribunal a separar o verdadeiro do falso.

29 julho, 2011

A arte da escrita


Extrato duma carta escrita com o pé
Os artistas deficientes manuais não deixam de escrever por falta de uma das mãos ou, mesmo, das duas. Alguns escrevem com uma perfeição igual ou mesmo superior à dos seus semelhantes que não possuem qualquer lesão nos membros superiores.

E aqueles indivíduos que, por qualquer motivo, perderam ou deixaram de poder utilizar as mãos para escrever, podem reconhecer-se, de igual modo, na sua escrita. Esta manterá os traços fundamentais de outrora, porque a escrita é, sobretudo,um ato mental. Os membros ou órgãos são diferentes, mas a pessoa é a mesma. É quase como se mudássemos de instrumento da escrita, se trocássemos o lápis pela esferográfica.

O perito da escrita manual ou o perito grafopsicológico, em contacto com textos escritos nas duas situações, conseguem identificar o seu autor e constatar a permanência de determinadas tendências da sua personalidade.

A amostra realizada por uma senhora deficiente da Sociedade de Artistas Deficientes Manuais faz inveja a muitos escreventes sem qualquer lesão física. A ordem e a perfeição da forma, desta carta escrita com o pé, manifestam uma excelente adaptação física e boas qualidades psicológicas.

A minúcia dos pequenos gestos, com detalhes minuciosos, desta grande artista, também exímia a bordar, a tricotar e a pintar, revelam espírito de observação e de análise, curiosidade e intuição.

A capacidade intelectual e a experiência adquirida ajudaram a desenvolver  as habilidades motoras finas nos membros inferiores desta senhora que pode servir de exemplo e de motivação para tantas outras pessoas.

10 junho, 2011

O ritmo da escrita, L. Klages



Imagem de Augusto Vels (P enorme, de Pier )

Ludwig Klages (1872-1956), filósofo, psicólogo e grafólogo alemão, introduziu o conceito de ritmo na análise da escrita, no modo como aparece distribuída a mancha de tinta na folha.

O mundo na sua globalidade é, para Klages, um processo rítmico. Mas o ritmo não é pura repetição.
Assim, como existe a polaridade rítmica na noite e no dia, na altura e na profundidade, no verão e no inverno, no nascimento e na morte, existe na própria vida.

Para este autor, o ato da escrita revela tudo o que ocorre na mente e no físico do escrevente, bem como as experiências vivenciadas. Mas, quando se presta atenção à escrita, diminui a naturalidade e os impulsos espontâneos, deixando a escrita de expressar toda a sua originalidade.

O ritmo é a manifestação primordial da vida. Ele distingue-se de compasso (cadência métrica), porque este é mecânico, não tem vida. Assemelha-se, antes, às ondas do mar, com transformações impercetíveis de forma e de duração, com movimentos semelhantes, mas não idênticos.

O ritmo da escrita é perceptível por intuição imediata, por uma intuição geral e objetiva. Não interessam a regularidade nem a irregularidade dos elementos gráficos em si mesmos, mas a relação íntima que existe entre eles: a originalidade, a espontaneidade. Pois, é tão importante a palavra como o espaço que a rodeia, constituindo aquela com este não um conflito, mas um equilíbrio.
O ritmo está tão presente num texto inteiro como na mais pequena pinta dum i.

A escrita é tanto mais rítmica quanto mais for pessoal, natural, espontânea e involuntária. Ou seja com variações periódicas, sem grandes perturbações, onde haja uma proporcionalidade, não matemática, mas diferenciada.

Klages até aconselha a inverter a folha e a observar a escrita assim invertida, para melhor captação da euritmia e arritmia, sem que o grafólogo se deixe levar por preconceitos.

Porém, tanto a proporção como a desproporção dos traços gráficos podem assumir significados opostos, porque a força vital e instintiva da pessoa é antagonista.

Os traços vivos, a originalidade, a proporcionalidade e uma boa distribuição da mancha de tinta  conduzem, segundo Klages, ao mais elevado grau do nível da Forma (formniveau), que não se confunde com o conceito forma de Jules Crépieux-Jamin.

Qualquer excesso (escrita demasiado estreita, demasiado larga, demasiado comprida)    perturba o ritmo. A monotonia (excesso de regularidade) também prejudica o ritmo.
               Nenhum traço da escrita considerado isoladamente se pode repetir matematicamente.
Concluímos que o movimento escritural é  produzido por um encadeamento de movimentos de dedos,
pulso, braço e antebraço  que se materializa em caraterísticas pessoais da escrita, sendo esta o resultado
 concreto e permanente do movimento gráfico pessoal. 

A escrita acompanhou a evolução da sociedade e dos estilos: no período gótico, tornou-se alta e fina, como reflexo da espiritualidade, na época clássica ficou mais rígida e mais fria e no período barroco, adornou-se e complicou-se.
Como exemplo prático da correspondência sujeito/escrita, podemos observar, supra, na  maiúscula enorme e ornamentada, provavelmente, o amor-próprio, a imaginação e o orgulho do escrevente.

08 maio, 2011

Exame da escrita manual


Para um juízo mais completo sobre a autoria de um determinado documento ou assinatura, é pertinente analisar não apenas os factores externos, ligados à escrita, mas, também, os internos, relacionados com caraterísticas físicas, motoras, biológicas, neurológicas e intelectuais do escrevente.

Os factores internos dão origem aos externos, os mais visíveis, palpáveis e detetáveis com instrumentos apropriados. Assim como a interpretação de qualquer  obra de arte fica incompleta sem o conhecimento do seu criador, de igual modo, uma página escrita constitui a marca intrínseca do seu autor.
A identidade gráfica tem a sua raíz, em primeiro lugar, na constituição específica de cada indivíduo. Como não existem duas pessoas iguais, todas as escritas são diferentes.
Deste modo, podemos não apenas afirmar que um grafismo pertence ou não pertence a um indivíduo por comparação com outros escritos autógrafos. Conseguimos ir mais longe e declarar que certa escrita não pode ter sido feita por alguém que possua determinada estrutura neuropsicológica.
Os gestos escriturais, derivados dos movimentos de extensão e de flexão, dos movimentos abdutivos (da esquerda para a direita) e adutivos (da direita para a esquerda), refletem o estado de tensão das energias psíquicas do escrevente.
O cérebro e a representação morfocinética assumem um papel predominante sobre a atividade neuromuscular do escrevente que conduz à execução da escrita, sem excluir a sua influência recíproca nem a unicidade da personalidade humana.
Semelhanças simplesmente exteriores de dois documentos podem apresentar dissemelhanças grafopsicológicas que determinem a não atribuição da mesma autoria.
Na figura acima, apresento um exemplo de escrita que não pode, de todo, ser atribuída a quem tenha falta de coordenação motora, tendência à falsificação ou mentira, instabilidade emocional, agressividade, inconstância e depressão. Alguém, com estas caraterísticas, não escreve desta maneira.

08 março, 2011

O simbolismo do espaço na escrita

Max Pulver (1889-1956), grafólogo suíço, desenvolve o conceito do simbolismo espacial e aplica-o à escrita.

Já Platão, no Timeu, se refere ao Kora, em que o ser (espaço) está acima, o estar (espaço concreto) está abaixo, o mito está à esquerda e o logos à direita.

Além da grafologia, muitos testes gráficos e projetivos (teste da árvore de Koch/Stora, teste da família de Corman, teste das estrelas e das ondas de Avé-Lallemant, teste da figura humana, teste da criança à chuva de Crocetti (inspirado no teste de uma senhora à chuva de Fay), teste da figura humana de F. Goodenaugh, teste da paisagem, teste de Wartegg, o teste de Rorschach) adotaram esta simbologia espacial na interpretação da personalidade.

Na grafologia, o simbolismo pulveriano aplica-se à página inteira, à palavra ou a uma simples letra.

Observemos, por exemplo, a palavra traje, onde o escrevente desenvolve alguns sectores.
O indivíduo pode sentir-se como que atraído/repelido por cinco vetores: acima, abaixo, ao centro, à esquerda e à direita.

  • Acima (zona superior – seta amarela) estão o dia, o céu, o bem, a imaginação, o intelecto, o espírito.

  • Abaixo (zona inferior – seta vermelha) estão a noite, a terra, o mal, o inconsciente, a sensualidade, a materialidade.

  • No centro (zona central – seta verde) estão o eu, o presente, o imediato, o sentimento, o autocontrolo.

  • À esquerda (zona inicial – seta azul) estão o princípio, o passado, a mãe, a origem, a introversão, a interioridade, a conservação, a regressão, o egoísmo.

  • À direita (zona final – cor castanha) estão o tu, o futuro, o fim, a extroversão, a sociabilidade, a iniciativa, a conquista, a atividade, a agressividade, a progressão.

19 fevereiro, 2011

Escrita manual 23 anos mais tarde

As formas e os movimentos da escrita correspondem a um conjunto de “imagens” que se encontram no cérebro do seu autor.

O escrevente consciente ou inconscientemente para escrever tem que antecipar o formato dos grafismos que vai traçando no papel, numa interação constante entre mão, músculos e sistema nervoso.

As escritas variam de um escrevente para outro, porque as “imagens” são específicas de cada pessoa. E é por estas serem constantes dentro de cada sujeito e variarem de um sujeito para o outro que é possível a caraterização cientificamente aceitável duma personalidade com base na sua escrita.

Amostra A – escrita de 1988


Amostra B – escrita de 2011

Nas duas amostras apresentadas, com 23 anos de diferença uma da outra, podemos verificar algumas constantes que nos provam que os dois escritos são do mesmo autor, que o autor não sofreu alterações de personalidade e que mais ninguém poderia construir um texto com estrutura tão semelhante à do primeiro. E o caso torna-se ainda mais extraordinário se disser que o segundo texto foi traçado sem visionar o primeiro.

Só em obras saídas do mesmo punho se justificam ritmos, espaços, inclinações e ligações tão semelhantes. Sem deixar de reparar no pormenor do golpe de chicote da barra do t. Se as linhas aparecem mais distanciadas em A do que em B, é porque aqui o espaço para escrever era mais reduzido.

Estas caraterísticas, juntamente com as formas em movimento e a velocidade dos grafismos, provam o caráter dinâmico da personalidade do seu autor, atualmente com 64 anos.


09 fevereiro, 2011

Escrita manual à lupa



Ao grafólogo, antes de fazer uma abordagem geral e uma análise pormenorizada, não interessa o conteúdo do texto, mas a forma, ou seja, a distribuição da mancha de tinta na folha do papel. Deve, pois, interrogar-se sobre o como? e não sobre o quê?

Tal não significa que o perito deva desprezar o contexto em que os factos ocorreram, porém, as justificações encontradas para concretização do ilícito ou para defesa do arguido devem ser invocadas pelas testemunhas e, especialmente, pelo advogado de defesa.

O perito é imparcial e o tribunal reconhece-lhe e exige-lhe essa imparcialidade. Não é contra nem a favor de ninguém, mas segue o princípio de neutralidade como o próprio juiz.

Analisa, compara, interpreta e avalia os resultados da sua pesquisa.
No texto ou na assinatura, ele procura encontrar aqueles elementos mais distintivos que fazem com que a autoria daqueles possa ser atribuída a uma e não a outra pessoa.

O perito serve-se da sua formação, da sua experiência, da sua intuição e, especialmente, dos instrumentos apropriados. E, trabalhando em equipa, consegue resultados surpreendentes, considerando que cada escrita é um ato individual e único. Ou seja, há sempre quaisquer gestos ou marcas que são específicos de determinado escrevente, o segredo está em descobri-los.

O modo como é colocada a pinta no i, a maior ou menor pressão, o sentido dos movimentos, os ângulos, os traços iniciais e finais das palavras são alguns dos parâmetros a confrontar para a individualizar a escrita e identificar o punho donde saiu.

Os dois exemplos apresentados supra ilustram bem como os pormenores é que fazem a diferença.

O “O” maiúsculo da figura A parece-se com uma espiral centrípeta, porque foi executado no sentido inverso ao dos ponteiros do relógio, movimento detetado devido ao rasgo inicial possuir pouca tinta e ser mais carregado. Comprovam, ainda, tal facto a maior pressão exercida nos traços descendentes e o final em forma pontiaguda.

O “O” maiúsculo da figura B é semelhante a uma espiral centrífuga. Nota-se que esta letra foi iniciada na parte central e traçada no sentido dos ponteiros dos relógio, devido ao facto de a esferográfica ter deixado certa acumulação de tinta no início do traço.

 
Deste modo, se as formas arredondadas de determinado escrito tiverem sido realizadas com movimento progressivo, o perito terá aqui mais um bom indício para atribuir a sua autoria à pessoa suspeita que habitualmente realizar os ovais nesse sentido.

15 outubro, 2010

Perícia sobre uma agenda*

Tendo surgido dúvidas sobre a autoria dum escrito, a análise da agenda pessoal pôde tornar-se esclarecedora do caso.

Trata-se do caso do senhor Alfredo que autofalsificara a própria assinatura e o texto em que se comprometia a pagar as obras de remodelação da casa que tinha alugado ao senhor Miguel.

O inquilino registou numa folha duma pequena agenda o seu compromisso e entregou-o ao senhorio. Quando as obras já estavam concluídas, o senhor Alfredo escusou-se a pagar fosse o que fosse, dizendo que não tinha nada a ver com os custos da reparação. Então, o senhor Miguel exibiu-lhe o papelito que lhe fora passado pelo inquilino antes de iniciarem as reparações.

O Senhor Alfredo negara ter sido ele a assumir tal comprometimento e desafiou o senhorio a fazer prova do contrário. O senhor Miguel recorrer a um perito calígrafo, que tendo analisado o texto questionado e outros autênticos, não conseguiu atribuir-lhes a mesma autoria.

Sempre à procura de outras pistas, o perito notou que o senhor Alfredo possuía uma agenda com formato semelhante ao do escrito contestado e resolveu pedir-lha – pedido que foi, de imediato, correspondido. Com seu olhar clínico, o perito folheou a agenda e deparou com marcas latentes deixadas numa folha em branco. Perguntou ao senhor Alfredo se a agenda era de seu uso pessoal e exclusivo, ao que este respondeu afirmativamente. O perito pediu ao inquilino que o acompanhasse até ao seu gabinete e aí fez-lhe ver que os sulcos latentes mais visíveis da folha da agenda correspondiam exactamente às palavras do escrito negado.



De facto, bastou destacar que a palavra inicial “concordei” era precisamente igual ao sulco deixado na folha subjacente, quanto aos géneros forma, dimensão, inclinação e ligação.

E, ainda, a rubrica final, que o senhor Alfredo disfarçara, apesar de conter cinco ângulos, um bucle e um traço final sobrepunha-se, exactamente, sobre as marcas latentes.

Confrontado com sinais tão evidentes deixadas pela forte pressão do seu punho, o senhor Alfredo não teve outra alternativa senão admitir perante o perito que se equivocara e que era ele o verdadeiro autor do escrito questionado.

Está a ver, caro leitor, como uma simples folha em branco  pode  apanhar em flagrante um  esperto falsificador!?

*Nomes fictícios

24 setembro, 2010

Premissas básicas da análise pericial forense

O movimento gráfico resulta da conjugação de factores psíquicos, neurológicos e somáticos do indivíduo, que fazem com que o acto da escrita seja mental, único e irrepetível.


• A observação do suporte é um passo essencial na avaliação da autenticidade da escrita.


• Não há imitações perfeitas, porque não existem personalidades que se correspondam completamente, pois se duas escritas (ou assinaturas) forem exatamente iguais uma delas é falsa.


• Os traços da escrita não são avaliados como um produto isolado, mas contextualizados e integrados num processo dinâmico.


• Quanto mais espontâneo se apresentar o grafismo, maior é a sua representatividade.


• Pequenas diferenças na escrita não contrariam, mas indiciam a autoria, porque toda a personalidade é complexa e dinâmica.


• Provar com certeza absoluta que dois grafismos pertencem a determinada pessoa torna-se uma tarefa muitas vezes  impossível, porque é desconhecer as inumeráveis possibilidades de coincidência ou de imitação.


• O recurso ao sistema de identificação biométrico (caneta com sensores) pode ser uma mais-valia para reforçar a prova da autenticidade ou da falsidade.


• As conclusões devem ser claras, concretas, concisas e coerentes.

16 agosto, 2010

Análise da escrita do escritor Miguel Real


Transcrevo o artigo da revista "OS MEUS LIVROS", n.º 89, deste mês de Agosto, após solicitação dum breve perfil psicológico sobre o escritor Miguel Real.




Pedimos ao calígrafo judicial Afonso Sousa que analisasse a letra de Miguel Real. O espírito crítico e eclético e o bom humor são algumas das características que destacou.
TEXTO Eduarda Sousa
Entregámos a este especialista as primeiras páginas manuscritas do romance "A Ministra" e a assinatura de Miguel Real. Partindo da análise da «escrita ritmada, movimentada e simplificada» que apresenta uma «forma predominantemente arredondada» e olhando para pormenores como as pintas dos "i" ou as barras dos "t", o perito retira várias conclusões: «Com um temperamento impressionável e com propensão para a diversidade emotiva e originalidade, Miguel Real sente necessidade de evasão, de mudança e de estímulos. De elevada agilidade mental, de espírito sistematicamente crítico e eclético, com predomínio do aspecto emotivo sobre o racional, a sua curiosidade e espírito intuitivo deixam-no sempre insatisfeito». Afonso Sousa acrescenta ainda outros traços de personalidade: «De apreciável generosidade, cortês e altruísta, é flexível, receptivo e espontâneo, com uma boa adaptação ao meio onde está inserido e com enorme tendência para a simplicidade a nível pessoal e ambiental. Revela prudência, precaução, vontade de autocontrolo e espírito de oposição: factores que facilitam a contestação e a necessidade de ligação ao passado. Tem bom sentido de humor, considerável sensibilidade, vivacidade e diplomacia, sem cair no 'politicamente correcto'. A sua energia vital pode levá-lo a fervilhar em determinados momentos e contextos. Apesar do gosto pelo detalhe, dá mais importância ao essencial do que ao acessório. A sua introversão harmoniza-se com a extroversão, tornando-se uma pessoa sociável, procurando ser leal e íntegro. O seu sentido de responsabilidade leva-o a compreender determinadas atitudes dos outros».
Uma análise grafológica pode esboçar um retrato psicológico, detectando emoções, sentimentos, qualidades, defeitos ou impulsos. Mas, por vezes, o resultado precisa de ser complementado com outros testes (de desenho, inteligência, personalidade ou sociabilidade) para ser conclusivo.
O acto da escrita não se esgota no papel.


PRÁTICA ANCESTRAL
Já Demétrio na Grécia antiga dizia que a escrita reflectia a alma do indivíduo. Sempre que escrevemos à mão, deixamos uma impressão do nosso carácter e personalidade no papel. A nossa escrita expressa o que vai no inconsciente, revelando muito sobre nós.
Não é possível situar no tempo as origens do estudo e análise da escrita, que se dá pelo nome de grafologia.
O primeiro livro conhecido sobre o tema é de Camillo Baldi, um médico italiano, professor da Universidade de Bolonha, "Tratado sobre de como através de uma carta se conhece a natureza e as qualidades do autor" que saiu em 1622 e criou a primeira normalização sobre o tema.
Crépieux Jamin (1858-1940) é considerado o verdadeiro fundador da grafologia moderna, levando o rigor científico ao seu estudo.
Tendo em conta que se trata de uma Ciência Humana não exacta, a grafologia consegue apenas um «desempenho semelhante ao de tantos outros testes projectivos», conclui Afonso Sousa.


os meus livros //AGOSTO 2010
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