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30 julho, 2010

Velocidade da escrita - Conclusão (5)

A velocidade de escrita aumentou gradualmente em ambos os sexos, dos 6,6 aos 18 anos, tanto nos testes da versão cuidada como nos da versão rápida.


Da primeira versão não apresentei os resultados estatísticos, porque tal não era o objectivo deste trabalho. O teste de velocidade da escrita cuidada serviu para poder comparar a quantidade de letras conseguidas em cada caso e observar a capacidade de aceleração e ritmo de escrita de cada aluno. Houve alguns casos, apesar de raros, em que fizerem menos letras à velocidade máxima do que à velocidade normal (escrita cuidada).


Os professores dos vários níveis de ensino manifestaram-se muito receptivos a este projecto, facilitando e apoiando a realização dos testes. Alguns solicitaram que, num próximo ano lectivo, voltasse a repeti-los, para verificarem se houve evolução na escrita por parte dos seus alunos.


Muitas crianças sentiram-se valorizados ao percepcionarem que alguém, mesmo não sendo seu professor, se interessava pela sua escrita – actividade que o pode conduzir ao insucesso ou fomentar o sucesso.


Os docentes têm aqui mais um instrumento que lhes pode facilitar a verificação do progresso ou do retrocesso dos seus alunos e permitir a prevenção de futuros conflitos internos.


Cheguei à conclusão que, no âmbito educativo, a intervenção do grafólogo na escola e a sensibilização por parte dos educadores para os problemas da escrita (ou que a escrita desenterra) podem constituir um meio importante para elevar o nível de ensino/aprendizagem no nosso país.


As crianças entusiasmavam-se com a realização do teste da escrita veloz. E notei que algumas, mesmo durante o teste de escrita cuidada, já procuraram acelerar o ritmo. Outras, mais ansiosas, quando lhes pedi que escrevessem muito depressa, agitaram-se tanto que perderam velocidade.


Perante uma criança com uma escrita espasmódica ou muito lenta para a sua idade e ano de escolaridade, não se pode “fazer de conta” nem mentir-lhe, mas encorajá-la a iniciar exercícios de reeducação para desenvolver as suas potencialidades gráficas.




Escrita lenta, aluno do 5º ano, 12 anos, velocidade máxima de 78 letras por minuto, com problemas de dislexia e de disgrafia.
Escrita lenta de criança, de 12 anos, com problemas de disgrafia e de dislexia.


Por vezes, apareceram-me crianças disgráficas que, desmotivadas para a reeducação, se consideravam inferiores às outras, por causa das dificuldades na escrita. Nestes casos, é também, necessária a intervenção do psicólogo.


Com crianças é importante valorizar não apenas a velocidade, mas também a forma e legibilidade das letras. Elas, muitas vezes, preferem escrever menos e fazer uma letra mais bem feita, porque escrever mal é faltar ao cumprimento das normas prescritas pelo professor e pelo sistema educativo.

27 junho, 2010

Velocidade da escrita (4)

Resultados observados

Terminado o tempo estabelecido, sempre como apoio do professor da disciplina que estava a ser leccionada, recolhi os testes, depois de os alunos colocarem no fundo da folha o seu nome, para distinguir o sexo, e a data de nascimento, para posterior elaboração da tabela por sexos, por anos de escolaridade e por idades (de seis em seis meses).
Tomei nota da mão utilizada (esquerdinos ou destros), da data de nascimento, do sexo, da turma, da escola, da data da realização do teste e de outras ocorrências mais significativas.
Como a população testada não completava exactamente a idade (ano ou seis meses) no dia em que realizaram o teste (a escala é de 6 em 6 meses), arredondei as datas de nascimento três meses para cima ou para baixo, por não se manifestar pertinente elaborar uma escala inferior a meio ano. Exemplificando: se um aluno, à data da realização do teste, tivesse 6 anos e 2 meses, atribuía-lhe a idade de 6 anos; se tivesse 6 anos e 4 meses já lhe atribuía a idade de 6 anos e meio; se, porém, tivesse 6 e 9 meses arredondava, ainda, por defeito para 6 anos e meio; todavia, se o aluno tivesse 6 anos e 10 meses, já lhe atribuía a idade de 7 anos.
Contei, de igual modo, o número de letras que cada escrevente conseguiu realizar durante um minuto, à velocidade normal (escrita cuidada), num primeiro momento, e, à velocidade máxima, num segundo momento. Mas deste trabalho constam apenas as escritas feitas à velocidade máxima.

Escalas A e B de velocidade por idades
Escalas C e D de velocidade por anos de escolaridade
Na 1.ª coluna das Escalas A, B, C e D, constam as idades ou os anos de escolaridade. Na 2.ª coluna encontra-se o número de testes realizados, na 3.ª coluna aparecem as médias conseguidas, na 4.ª está registada a totalidade das letras contabilizadas por cada idade e por cada ano de escolaridade.
Escala A – meninas, por idades
A Escala A apresenta as médias de letras feitas nas diferentes idades pelas meninas, por minuto, à máxima velocidade arredondada às décimas.
As meninas de 6,6 anos conseguiram uma média de 44,3 letras por minuto e as de 18 anos, a média de 171. Verificou-se uma evolução contínua ao longo dos vários escalões etários.
Os escalões dos 10,6 e 11 anos apresentam uma média igual, mas tal facto não se verificaria se os escalões fossem estruturados pela unidade ano, em vez de meio ano.
Entre os 16 e 17 anos há uma ligeira alteração na linha evolutiva, talvez devido ao pequeno número de alunas testadas.
A quantidade de testes realizados com meninas foi de 1 104 e o número total de caracteres contabilizados foi de 140 430.

Escala B – rapazes, por idades
A Escala B apresenta as médias de letras feitas nas diferentes idades pelos rapazes, por minuto, à máxima velocidade, arredondada às décimas.
Os rapazes de 6,6 anos conseguiram uma média de 43 letras por minuto, inferior em 1,3 às meninas. Aos 18 anos, os rapazes atingem uma média de 180,1 letras, superior à das meninas em 9,1 letras por minuto. Verificou-se igualmente uma evolução contínua ao longo dos vários escalões etários, variando apenas nos escalões dos 16,6 (demasiado elevado), 17 e 17,6, talvez devido ao reduzido número da população testada.
O número de testes realizados foi de 1 147 e o total de caracteres contabilizados perfez 138 625.

Escala C – meninas, por anos de escolaridade
A Escala C apresenta as médias de letras, arredondadas às décimas, feitas pelas meninas desde o 1.º ao 12.º ano de escolaridade, por minuto, à velocidade máxima.
As meninas do 1.º ano de escolaridade conseguiram uma média de 50,1 letras por minuto e as do 12.º ano, uma média de 180. Verificou-se uma evolução contínua ao longo dos vários anos, com um pico no 10.º ano (ver gráfico 1).


Escala D – rapazes, por anos de escolaridade
A Escala D põe em evidência as médias de letras, arredondadas às décimas, feitas pelos rapazes desde o 1.º ao 12.º ano de escolaridade, por minuto, à máxima velocidade.
Os rapazes do 1.º ano de escolaridade conseguiram uma média de 47,3 letras por minuto (inferior à das meninas do mesmo ano) e os do 12.º ano, uma média de 188,6 (superior à das meninas do mesmo ano). Constatou-se sempre uma evolução contínua ao longo dos vários anos, mais acentuada no 7.º ano.
O número de testes realizados com os rapazes foi 1 166 e a quantidade de caracteres registados foi de 139 488.
As Escalas A e B por idades apresentam um número mais baixo de testes realizados por cada escalão do que as Escalas C e D por anos de escolaridade, porque alguns alunos testados não registaram a idade, devido ao desconhecimento da data de nascimento (os mais pequeninos) ou devido ao esquecimento (os mais adiantados). Assim sendo, eu sabia o ano a que tais alunos pertenciam, mas desconhecia o escalão etário onde incluí-los.
De modo geral, sobressai uma evolução contínua na velocidade da escrita, mais acentuada na passagem do 1.º para o 2.ºano, do 6.º para o 7.º ano e do 9.º para o 10.ºano. A evolução é maior de ano para ano de escolaridade do que por idades, mas haveria uma evolução semelhante se, em vez ter tomado por unidade o meio ano (6 meses), tivesse tomado o ano (12 meses).

Se observarmos as Escalas A e B por idades, podemos comprovar que as meninas são sempre mais rápidas que os rapazes até à idade dos 12 anos e a partir desta idade são ultrapassadas pelos rapazes. Idênticas conclusões conseguirmos extrair da leitura das Escalas C e D por anos de escolaridade, em que as meninas superam sempre os rapazes até ao 6.º ano de escolaridade e a partir desta idade é o sexo masculino que consegue ser mais rápido, mesmo na idade adulta, em que também fiz algumas dezenas de testes.

Gráfico 1 - Evolução da escrita das meninasOs Gráficos 1 e 2 apresentam a linha da evolução da escrita, por anos de escolaridade, respectivamente, das meninas e dos rapazes, mais suave nestes, com um pico naquelas.



Gráfico 2 – Evolução da escrita dos rapazes
À partida, eu esperava que, à velocidade máxima, os alunos fizessem mais letras do que à velocidade normal, mas houve alguns casos em que tal não aconteceu. Um ou outro aluno ainda fez menos letras quando lhe pedi que escrevesse o mais depressa possível, devido, suponho, à reacção inibitória por nervosismo ou stress. Noutros casos, observei que a quantidade de letras no teste de velocidade máxima foi inferior ao teste da escrita cuidada, porque as letras foram feitas numa dimensão maior. Porém, só um estudo individualizado poderia esclarecer melhor estas divergências. Julgo que estes casos isolados não irão prejudicar a validade da escala construída.

Durante a administração do teste, os alunos cumpriram regularmente as normas indicadas. Alguns, especialmente os mais pequeninos, cumpriram-nas com tanto rigor que até deixaram a última letra que fizeram por completar, mal lhes fiz sinal para terminar. Num ou noutro caso, principalmente entre os de idade mais avançada, houve a tentativa de começarem a escrever antes do início da contagem do minuto ou de continuarem a escrever depois. Aos alunos que assim procederam foram-lhes anuladas as provas ou descontadas as letras que fizeram fora de prazo.

Nalgumas turmas repeti o teste alguns meses depois ou no ano seguinte, tendo verificado que os resultados foram semelhantes aos dos outros alunos testados e com as mesmas idades. Por isso, concluí que não era necessário fazer testes aos mesmos alunos ao longo de vários anos de escolaridade para construir uma escala fidedigna e representativa. Poderia testar os alunos dos vários anos ou idades na mesma data.

A fim de verificar se a repetição do teste de velocidade teria alguma influência no resultado (se aumentava ou diminuía o número de palavras por minuto), com alguns alunos, repeti o teste duas ou três vezes, com pequenos intervalos de tempo. O resultado foi sempre mais ou menos semelhante: à medida que o aluno fazia novo teste aumentava ligeiramente a quantidade de letras, devido à maior automatização do ritmo da escrita. Mas constatei que havia um limiar, ou seja, a quantidade de letras escritas, a partir da quarta ou quinta vez, deixava de crescer. E tive alguns casos em que fizeram até menos letras, devido também ao factor cansaço.

Confirmei que a prática e os exercícios aumentam a velocidade da escrita. Com tal objectivo, apliquei o teste a dois alunos em Junho, quando o ano lectivo está a chegar ao fim e a actividade da escrita é maior. Voltei a aplicá-lo aos mesmos alunos, no final das férias, em Setembro (nos meses de férias escreve-se menos), quando os alunos perdem parte do treino da escrita. Resultado: a quantidade de letras por minuto diminuiu em ambos os alunos. Uma menina do 3.º ano de escolaridade reduziu de 118 para 114 as letras por minuto e um menino do 4.º ano baixou de 108 para 104 letras. Aqui o facto treino predominou sobre o factor tempo.

Observando os testes, deparei com determinadas escritas claras, cuidadas e organizadas e com outras mal estruturadas, talvez reveladoras de problemas variados.

Detectei casos de disgrafia (perturbação de tipo funcional que afecta a qualidade da escrita, no traçado de letras, de palavras, de algarismos e doutros sinais) e de disortografia (perturbação na produção escrita, devido à presença de muitos erros ortográficos), tanto nos primeiros anos de escolaridade como nos mais avançados.

Verifiquei que há dezenas e dezenas de esquerdinos e que alguns escrevem de modo lento, desconfortável e confuso, por não utilizarem os melhores métodos de escrever e não tomarem as posições mais adequadas, do braço, do pulso, do papel e dos instrumentos de escrita.

Pude também constatar que a idade tem uma grande influência na velocidade da escrita, visto que alguns alunos repetentes, por causa do insucesso escolar, mas mais velhos dois ou três anos, conseguiram fazer um maior número de letras que os colegas mais novos, apesar de frequentarem o mesmo ano de escolaridade.
Constatei que a diferença entre o número de letras escritas por minuto à velocidade normal (escrita cuidada) e à velocidade máxima é menor nos primeiros anos de escolaridade e vai-se acentuando na adolescência.
Os alunos com 6 anos e meio e 7 anos (que ainda dominam mal a escrita) conseguiram fazer mais letras, quando lhes pedi que escrevessem mais depressa do que quando escreviam à velocidade normal.

Verifiquei que o nível de velocidade aumenta desde o 1º ao 12º ano de escolaridade, altura em que os alunos têm cerca de 18 anos de idade.
A idade, as habilitações escolares e a exercitação são três grandes factores que influenciam a velocidade.
O número de testes realizados com as meninas foi 1 168 e os caracteres contabilizados atingiram a quantidade de 147 017.

30 maio, 2010

Velocidade da escrita (3)

Realização do teste

Depois de ter combinado com os professores das turmas a hora em que iria aplicar os testes, dirigi-me às respectivas salas de aula. Comecei por explicar aos alunos, numa linguagem adaptada ao seu nível etário, os objectivos deste exercício lúdico.
Distribuí a cada aluno uma folha de papel branca A4, sem linhas. Disse-lhes que iam realizar um teste diferente dos outros que habitualmente costumam fazer. Este é mais curto, mais rápido e não conta para avaliação curricular. Procurei, deste modo, despertar o seu interesse e evitar inibições ou stress.
Menina, 8º ano, 14 anos e meio, 147 letras à velocidade máxima

Lembrei-lhes que poderiam utilizar o instrumento de escrita que preferissem e da cor que pretendessem (lápis ou esferográfica). No 1.º ano de escolaridade todos optaram por escrever com o lápis preto, pois é assim que estão habituados. Nos restantes anos, a grande maioria escolheu a esferográfica de cor azul, tendo alguns preferido a cor preta e muito poucos escolheram outras cores, como a verde e a roxa.

Escrevi no quadro a frase As nossas palavras são como um cristal e solicitei-lhes que a escrevessem no início da folha que lhes tinha distribuído, na posição vertical, a fim de se familiarizarem com o enunciado e não perderem tempo a copiá-la do quadro. Deste modo, os alunos não precisariam de levantar a vista da folha, especialmente, os dos primeiros anos de escolaridade, em que as capacidades neuromotoras e mnemónicas estão menos desenvolvidas.

Pedi-lhes que, numa primeira fase, durante um minuto, escrevessem a mencionada frase, à velocidade normal, tal como costumavam escrever durante as aulas, quando passavam apontamentos do quadro para o Caderno Diário. Lembrei-lhes que nesta primeira parte do teste, a preocupação principal deveria ser a qualidade e legibilidade da escrita e não a rapidez.

Preveni-os que, logo que lhes desse sinal para começarem, todos deveriam iniciar a escrever e que, quando lhes dissesse para terminarem, todos acabariam rigorosamente ao mesmo tempo, sem completarem a palavra nem escreverem nem mais uma letra. Na observação do cumprimento destas regras era ajudado pelo professor que se encontrava na sala a leccionar na altura da administração do teste.

Ao iniciar a contagem do minuto já todos deveriam ter a esferográfica na mão com a ponta assente na folha e, no final, mal eu desse sinal para terminar, deveriam pousá-la imediatamente. Cronometrei sessenta segundos. Enquanto os alunos estavam a fazer o teste, eu ia tomando nota daqueles que escreviam com a mão esquerda. Sobre os esquerdinos poderei, mais tarde, fazer outro tipo de pesquisa. Fica já a constatação que em cada grupo de 20 alunos, encontrei, em média, dois ou três esquerdinos, com predomínio dos do género masculino.
Terminada a primeira fase, fizeram um traço horizontal na folha, a fim de separarem o texto escrito numa fase e na outra. Entre as duas fases do teste – a primeira à velocidade normal e a segunda à velocidade máxima – os alunos descansaram cerca de três minutos, para poderem relaxar os músculos, antes de iniciarem a prova de velocidade propriamente dita, pois, a primeira fase tem por principal objectivo a verificação da capacidade de aceleração, quando comparar a quantidade de letras realizadas à velocidade normal com as conseguidas à velocidade máxima.

O teste da escrita cuidada é feito antes do teste de rapidez, porque me pareceu ser mais fácil, mais natural e mais pedagógico começar pelo ritmo normal. O aluno ainda está calmo interior e exteriormente e adquire mais treino para poder acelerar o máximo na etapa seguinte.

Relembrei-lhes que iriam escrever de novo a mesma frase o mais rapidamente possível e o maior número de vezes que conseguissem. Disse-lhes, ainda, que não fizessem emendas nem rasuras para não perderem tempo e que todas as letras que não fossem legíveis seriam descontadas.

08 maio, 2010

Velocidade da escrita (2)

Contexto populacional

O ambiente social onde foi realizada a maior parte dos testes é característico dos subúrbios das cidades de média dimensão, como é o caso do Porto.
O nível sócio-económico é diferenciado. A maior parte dos encarregados de educação trabalha nos serviços, indústria ou por conta própria. Existe algum desemprego, famílias carenciadas e apoios sociais. O nível educativo e o aproveitamento escolar são médios em relação ao resto do país.

Uma pequena parte dos testes foi realizada numa pequena escola do Ensino Básico duma vila do interior norte do país, num ambiente rural, em que a maior parte da população se dedica à agricultura.


Método e objectivos


Como se pressupõe pela bibliografia, baseio-me nas escolas europeias, optando por um método grafológico eclético, uma vez que não existe uma escola grafológica portuguesa.

Os principais objectivos deste projecto consistirão na recolha de dados e na criação duma escala grafomotora da velocidade da escrita das crianças e adolescentes portugueses que frequentam os ensinos básico e secundário.
6.º ano, masculino, 12 anos de idade, 134 letras à velocidade máxima


A consciencialização das potencialidades individuais, fomentando a auto-estima em relação à própria escrita – condição favorável ao desenvolvimento da aprendizagem – foi outro objectivo deste trabalho.

Praticamente, todos os alunos reagiram com grande entusiasmo na realização do teste de escrita, bastante diferente de tantos outros que estão habituados a fazer. E muitos interrogavam-se sobre o meu interesse pelas suas escritas, manifestando o desejo de voltarem a realizar novo teste. Os docentes aderiram com entusiasmo, colaboraram na realização do teste e quiseram saber do resultado dos seus alunos.

Tratou-se de construir uma frase-tipo e administrá-la a alguns milhares de alunos de diferentes níveis etários e de ensino, seguindo critérios idênticos.

A frase escolhida para o teste foi As nossas palavras são como um cristal, fácil de memorizar, extraída (e adaptada) dum belo poema do poeta português Eugénio de Andrade, em Antologia Breve, dedicado às palavras (São como um cristal as palavras). Alterei as ordens gramatical e sintáctica da frase:o sujeito, que aparecia no final do verso, passou para o início da frase, tendo-lhe acrescentado As nossas. Desta maneira tornei a frase um pouco mais extensa e os seus elementos continuam a caber numa linha manuscrita duma folha A4.


A frase ocupa cerca de uma linha e tem 32 letras. Considero-a representativa da literatura portuguesa, porque tem palavras com várias dimensões, contém diversas vogais, a letra minúscula mais larga (m), duas hastes (l), uma perna (p) e consoantes como r e v que oferecem alguma dificuldade na aprendizagem. A presença da letra i, que exige a deslocação da esferográfica para colocar a pinta, e da letra t, com o traço obrigatório, torna esta frase ainda mais significativa. A frase contém uma única letra maiúscula no início (convinha que aparecesse pelo menos uma). A quantidade de espaços entre as palavras (seis) está numa proporção aceitável.


A dimensão das palavras não se afasta da média do vocabulário português. A frase contém 7 palavras e 32 letras, dando uma média de 4,7 letras por palavra. Num texto digitalizado em língua portuguesa, com 30 906 palavras, escolhido ao acaso, contabilizei uma média de cerca de 5 letras por palavra.

A frase é composta por três palavras monossilábicas, três dissilábicas e uma trissilábica. As palavras com um maior número de sílabas não surgem com tanta frequência, especialmente, entre as crianças que também são alvo deste teste.
O ponto final entrará na contagem, visto que os sinais de pontuação na língua portuguesa são utilizados numa percentagem igual ou superior à verificada na frase.

Se, em vez desta frase, tivesse sido escolhido um texto mais longo em que o aluno, durante um minuto, não repetisse praticamente nenhuma palavra seria mais representativo da língua portuguesa, mas também teria outras desvantagens: nem todos os alunos chegariam ao mesmo ponto do texto e seria necessário ser copiá-lo ou ditá-lo por impossibilidade de memorização. E, enquanto os alunos olhassem para o quadro ou ouvissem o texto, o nível de velocidade baixaria.

9.º ano, masculino, 15 anos de idade, 165 letras à velocidade máxima
Os testes foram administrados, com critérios idênticos, nos anos lectivos de 2005/2006, 2006/2007 e 2007/2008, aos alunos do 1.º ciclo da escola da Costa, do 2.º e do 3.º ciclos da escola de S. Lourenço, Ermesinde, no Grande Porto e a alunos dos 10.º, 11.º e 12.º anos de escolaridade da Escola Secundária da mesma cidade. Em Março de 2010 realizei mais 80 testes numa escola do interior do país, em Torre D. Chama, Mirandela, que ainda não estão contabilizados neste estudo. A média de velocidade conseguida nesta escola entre os alunos do 1º ao 4º ano de escolaridade foi semelhante à dos alunos da escola de Ermesinde (no Grande Porto), apesar duma ligeira baixa, atribuída ao facto de o teste ter sido administrado no 2º período lectivo. Os alunos que mais baixaram a média de letras por minuto foram os do 1º ano, uma vez que a aprendizagem de todas as letras do alfabeto ainda não tinha tempo de estar, devidamente, consolidada. Quando tiver nova oportunidade, realizarei outros testes na mesma escola do interior, porém, mais próximo do final do ano lectivo, à semelhança do que aconteceu nas escolas de Ermesinde.


Os testes são realizados em condições semelhantes para todos os alunos, evitando situações de cansaço ou stress, optando por condições ambientais e atmosféricas normais. Algumas crianças ansiosas, perante a tarefa de escrever velozmente, poderão agitar-se e ocasionarem uma diminuição da velocidade, em vez de aumentá-la, quando se lhes pedir que escrevam à máxima velocidade.

As instruções e as orientações serão iguais para com todos os alunos testados, sendo mais explícitas e pormenorizadas para aqueles que frequentem o 1.º ciclo (1.º, 2.º, 3.º e 4.º anos de escolaridade).

As crianças com 6 anos de idade não figurarão na escala, porque nesta idade ainda não deram todas as letras do alfabeto. Constarão da escala aquelas que tiverem pelos menos 6,6 (seis anos e seis meses) e que frequentem pelo menos o 1.º ano de escolaridade.

27 abril, 2010

Velocidade da Escrita (1)

Conforme tinha prometido, inicio a publicação do meu estudo sobre a Velocidade da Escrita junto de alunos do 1º ao 12º ano de escolaridade: trabalho já publicado pela Universidade Autónoma de Barcelona.
Do método seguido e das conclusões retiradas, irei dando conta nesta página.
Para facilitar a leitura sequencial do tema, criei a etiqueta "Velocidade da escrita", onde serão arquivados e numerados os vários capítulos.


Considerações iniciais


Robert Saudek (1880-1935), importante grafólogo checo, considera que a avaliação da rapidez da escrita é um dos principais meios para distinguir uma escrita natural de outra menos natural. Por isso, para este autor, uma das tarefas fundamentais da grafologia consiste em avaliar a velocidade da escrita. Os mesmos sinais gráficos duma escrita rápida ou lenta assumem significados diferentes. Devido à importância que atribuiu à velocidade da escrita, estabeleceu uma tabela com os parâmetros de rapidez e de lentidão.


J. Crépieux-Jamin (1859-1940), fundador da escola francesa de grafologia, concebe a escrita como movimento e inclui a velocidade entre os sete géneros da escrita. Ela revela a vitalidade motora e a rapidez de pensamento.


Max Pulver (1889-1952) apresenta vários sinais que permitem a distinção entre escrita veloz e lenta. Recorda que a direcção, a forma e a dimensão do traçado fazem variar a velocidade e que todo o movimento da direita para a esquerda a retarda. Na escrita rápida, este autor vê uma tendência para extroversão.


Girolamo Moretti (1879-1963), notável figura da grafologia italiana, também analisa a velocidade da escrita e afirma que esta indica rapidez em todas as coisas e, portanto, tendência a amontoar e a prestar pouca atenção aos particulares.


Desde a mais tenra idade, a criança através das garatujas comunica, descarrega a agressividade, coordena movimentos, ganha autoconfiança e promove a criatividade.


A realização do acto gráfico implica e desenvolve capacidades motoras, visuais, espaciais, linguísticas, mnemónicas e a estabilidade emotiva.


Se a escrita pode ser definida como uma linguagem do inconsciente que espelha a personalidade do indivíduo, a velocidade com que é feita ajuda a determinar o grau de actividade e a rapidez de raciocínio do escrevente.


A análise das garatujas, dos desenhos e da escrita pode servir para traçar o percurso evolutivo do aluno, nas vertentes psicomotora, intelectual e emocional.


È muito importante que a criança escreva com facilidade, simplicidade e legibilidade, devendo ser-lhe ensinadas as posições correctas do corpo e dos membros, bem como as técnicas mais apropriadas para pegar no lápis ou esferográfica e para segurar o papel.
A escrita é uma actividade rica e com um elevado grau de complexidade, visto que nela intervém vários componentes do organismo como músculos, sistema nervoso e cérebro.


Entre os seis e os dez anos de idade, ocorrem mudanças significativas na escrita dos alunos.



A análise da escrita não substitui, mas complementa e, juntamente, com outros instrumentos permite detectar potencialidades do aluno, possíveis handcaps, factores da instabilidade, dificuldades de relacionamento, nível de auto-estima ou de agressividade e descontrolo do desenvolvimento grafomotor. Ao mesmo tempo, respeitando as etapas do desenvolvimento da personalidade da criança, propõe e apresenta métodos de reeducação.


Em relação a outros testes de personalidade ou projectivos, o teste grafológico tem a vantagem de poder ser efectuado na ausência do escrevente, evitando, assim, situações de ansiedade.


Os distúrbios da escrita têm consequências negativas sobre a escolarização, sobre inserção na escola e na sociedade, sendo, em tais situações, necessária a sua reeducação. Estou convicto que as dificuldades disgráficas, tantas vezes associadas à dislexia, não desaparecem por si, mas unicamente mediante uma adequada intervenção.

Figura B – 2.º ano, masculino, 7 anos e 6 meses de idade, 94 letras por minuto à velocidade máxima



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