21 maio, 2008

Escrita da Criança

A análise da escrita infantil pode ajudar a compreender a criança dentro do ambiente familiar e escolar e a orientá-la na sua fase de desenvolvimento. Este tipo de análise tem uma leitura diferente da do adulto, porque as realidades são diferentes. A personalidade da criança encontra-se numa fase de desenvolvimento e a própria escrita está igualmente em evolução. O desenvolvimento da criança e problemas afectivos, falta de atenção, hiperactividade e disgrafia manifestam-se nos vários géneros da escrita.

Na aprendizagem da escrita a inteligência é um factor determinante. Os débeis mentais, mesmo sem dificuldades motoras, não escrevem como os normais da mesma idade. Todavia não é conveniente tirar conclusões sobre o nível de inteligência na criança através da sua escrita. Se uma escrita desenvolvida pressupõe a uma boa inteligência, nem sempre uma escrita pouco desenvolvida corresponde a uma fraca inteligência. O grafólogo é capaz de dizer se um estudante considerado inteligente é criativo e original ou é apenas assimilador e reprodutivo.

Para J. Peugeot há factores que constituem índice de inteligência como a velocidade, sem perder qualidade, a clareza e harmonia do conjunto, a personalização precoce dos m, n e p, a ligação de várias letras seguidas e a simplificação de traços dispensáveis, uma boa pressão e escrita pequena, desde que associada a um bom nível grafomotor. O próprio Alfred Binet, pedagogo e psicólogo francês, numa fase inicial, julgava que, através da escrita, poderia avaliar a inteligência, mas posteriormente optou por testes de compreensão da linguagem.

Ajuriaguerra e a sua equipa estudaram, profundamente, a escrita infantil e construíram uma escala composta por 25 itens que são classificados em três rubricas: ordem, falta de destreza e os erros de forma e de proporções. A sua escala permite avaliar a idade grafomotora da criança, comparando-a com a idade cronológica. Este autor atribui muita importância à irregularidade do espaço entre as letras, por se tratar dum gesto expressivo das dificuldades de controlo. Refere que existem casos em que a correcção das anomalias da escrita resolveu os problemas da criança, devido ao circuito estabelecido nas duas direcções entre o cérebro e o gesto gráfico. Segundo o autor, um gesto repetido torna-se habitual e condiciona o estado psicológico.

Na evolução da escrita distinguem-se três fases: pré-caligráfica (dos 5-6 até aos 8-9 anos), caligráfica (dos 10 aos 12 anos) e pós-caligráfica (dos 13-16). Na 1ª fase, as letras curvas apresentam-se abauladas, aparecem vários retoques, a direcção das linhas e a inclinação das letras apresentam irregularidade, as margens são pequenas ou estão ausentes. Na 2ª, o modelo é bem imitado, havendo uma melhor gestão das ligações, do espaço e dos vários géneros. E na fase pós-caligráfica, a velocidade aumenta e a escrita torna-se mais personalizada.

10 maio, 2008

Escrita feminina/escrita masculina

Escrita anelada e arredondada, com pernas curtas, de senhora, com 50 anos e formação superior

Escrita muito inclinada, com zona média pequena, de homem, com 53 anos e formação superior

A análise grafológica não nos fornece o sexo do escrevente. Há homens com uma escrita que apresenta características semelhantes às que costumamos encontrar na das mulheres e existem senhoras que escrevem com traços parecidos com os dos homens. Não há uma feminilidade nem uma masculinidade puras. Mas um facto é evidente: a mulher, com formas corporais mais redondas do que o homem, apresenta, normalmente, uma escrita mais arredondada. E podemos, pois, distinguir certos traços significativos que exprimem de certa forma a diversidade dos dois sexos(na época actual e na civilização ocidental). Refiro-me à escrita de adultos, porque as crianças e a adolescentes têm um tratamento à parte.

  • A mulher, com maior ternura e suavidade, prefere as formas redondas e alargadas.
  • O homem, com maior rudeza, opta por formas mais angulosas e mais estreitas.

  • A mulher, mais receptiva e conservadora, centra-se mais na forma do que no movimento.
  • O homem, mais impulsivo e activo, investe mais no movimento do que na forma.

  • A mulher, com maior grau de afectuosidade, valoriza mais a zona média, nomeadamente os ovais.
  • O homem, com predomínio da acção, apresenta uma zona média mais pequena e destaca-se mais nas zonas inferior e superior.

  • A mulher, mais contida, exerce menor pressão e junta mais as letras umas às outras.
  • O homem, mais impulsivo, exerce maior pressão e separa mais as letras e as palavras.

  • A mulher, com tendência a jogar mais à defesa, valoriza a vertical e protege-se nas arcadas.
  • O homem, com preferência pelo ataque, inclina-se mais para direita e avança em fio.

05 maio, 2008

GRAFOLOGIA FORENSE III

Para realizar uma análise grafologia devemos nos ater no estudo dos quatro elementos Movimento, Espaço; Forma e Traço e as respectivas interações entre os mesmos.
Pode parecer simples; contudo é bem mais complexo do que se possa imaginar.

O estudo do Movimento é bastante abrangente; mesmo após avaliar de acordo com os 10 tipos de Movimentos já descritos em artigos anteriores; o grafólogo pode estudar este item de acordo como o Ritmo de Movimento proposto por Klages; oriundos da tríplice divisão (Espaço – Forma e Movimento).

Os estudos de Heiss se ampliam, o autor fala das imagens da forma, do espaço e movimento. Estes estudos foram criticados por Klages e Roda Wieser; pois não utilizavam o conceito da bipolaridade positivo/negativo na escrita. Conceito este praticamente abandonado nos dias atuais pelas escolas de grafologia moderna.

Posteriormente a grafóloga Ursula Ave'-Lallemant's mostra que o ritmo pode mudar de qualidade; revelando assim características de determinada fase da vida; ou estado da pessoa. Agrega um ritmo do traço aso três descritos anteriormente. (Espaço – Forma e Movimento).

O ritmo espacial de Heiss pode ser:
Pouco Evoluído Acentuado Perturbado

Para o grafólogo que trabalha com estas teorias, o perfil será mais preciso. Aquele que fica procurando pequenos sinais...


Gêneros Gráficos
No estudo dos gêneros gráficos se destacam a Inclinação das Letras e a Direção das Linhas, já que a avaliação mais precisa da pressão fica comprometida na reprodução.

Direção das Linhas
A direção das linhas no campo gráfico reflete, antes de tudo, as variações de humor e da vontade de quem escreve.
Mesmo com a folha sendo pautada; as variações são visíveis. Existem várias palavras imbricadas ao longo do texto.

Direção Imbricadas Ascendente
As palavras ou as letras finais são ascendentes. Alternância entre estados de excitação e depressão. Imprudência (Klages). Descargas emotivas mal dominadas pela vontade.

Direção Escalonada
As palavras sobem e descem na linha. (Ex: palavra “foi” terceiro parágrafo – ao longo do texto existem outras)
Parece que existem duas linhas de bases na execução do grafismo.
Sobressalto na forma de agir e atuar. Inconstância e insegurança. Necessidade de ser notado pelos demais através de seus enormes esforços. Perturbação de ânimo. Critérios vacilantes.

É lógico que estas interpretações devem ser avaliadas com o Ritmo Perturbado.

No próximo artigo vamos falar sobre a Inclinação.

04 maio, 2008

2. Um pouco de história - história aos poucos

Os escritores H. Balzac, Ch. Baudelaire, G. Sand, reconheciam a existência de relações entre as pessoas e a sua escrita.
Edouard Hocquart (1787-1870), editor belga, considerado um dos precursores da grafologia, publicou uma interessante obra, Physionomie des hommes politiques, que inclui algumas páginas de grafologia. A este autor é-lhe atribuída uma obra aparecida, em 1822, com o título L'art de juger de l'esprit et du caractère des hommes et des femmes sur leur écriture, que apresenta já uma certa unidade temática.
Friedrich Albrecht Erlenmeyer (1849-1926), médico psiquiatra alemão, publicou, em 1879, A escrita: caracteres principais da sua psicologia e da sua patologia.
T. Wilhelm Preyer (1841-1897), pediatra e fisiologista da Universidade de Iena, em 1895, publicou Contribuição à psicologia da escrita, colocando a grafologia dentro da psicologia científica.
Abade de Flandrim, Jean Hyypolite Michon

O estudo da escrita evoluiu, principalmente, desde o século XIX. Em França, por volta de 1830, o abade de Flandrim (1809-1864) e o seu discípulo, também abade, Jean Hyppolite Michon (1806-1881) fundaram e dirigiram uma escola sobre a interpretação da escrita.
Jean-Hippolyte Michon, professor e teólogo, dentro do espírito das descobertas do século XIX, estudou meticulosamente a escrita manual e criou um grande número de sinais gráficos. Foi ele que introduziu o termo Grafologia e que utilizou pela primeira vez o método grafológico, sendo considerado o pai da grafologia. Em 1848, ele emprega todo o tempo e meios disponíveis ao serviço daquilo que ele designa como nova ciência. O seu raciocínio era baseado na relação íntima entre o pensamento e a escrita. Para ele o sinal gráfico estava intimamente relacionado com o sinal psicológico e esta relação conduziu-o à conclusão de que os sinais tinham um valor fixo, porque possuíam as condições físicas de criação psicológica e fisiológica. O seu mérito está em ter edificado a grafologia sobre bases sólidas e em abrir vários campos de análise. Na sua obra Système de Graphologie (1871), procurou encontrar os fundamentos teóricos da grafologia, tendo distinguido oito classes de escrita. Este autor criou a Societé Française de Graphologie (1871) e a revista La Graphologie, que ainda hoje se publica. Desenvolveu um método baseado na interpretação mais ou menos fixa dos gestos gráficos. Apesar de considerar a escrita como algo de estático, é tido como o grande precursor da grafologia actual.
Jules Crépieux-Jamin (1858-1940), médico francês, discípulo de Michon, iniciou um novo método de análise grafológica mais bem fundamentado psicologicamente, concebendo a escrita como movimento. Criou a École Française (1929), publicou entre outras as obras L`Écriture et le caractère (1888) e ABC de la Graphologie (1927) , tendo tido a última duas edições em português, em 1943. Este autor é considerado o verdadeiro fundador da grafologia. Concebeu a escrita como movimento e estabeleceu que toda a escrita apresenta sete características (géneros) essenciais e fundamentais: direcção, dimensão, forma, ordem, continuidade, pressão e velocidade, que, por sua vez, se subdividem em cerca de 200 espécies. Aspectos estes, com algumas modificações, ainda hoje estudados pelos grafólogos. Para Crépieux-Jamin não se pode interpretar o movimento da escrita, se não se tiver em consideração o meio (contexto) em que os vários aspectos se manifestam. Para determinar o meio criou processos de orientação, entre os quais sobressaem os de harmonia e desarmonia.

Segundo Crépieux-Jamin, através do estudo de tais sinais, chegava-se às várias características da personalidade do escrevente.

A grafologia inocentou Alfred Dreyfus, capitão do exército francês, de origem judaica

Foi com o caso do hebreu Alfred Dreyfus, em 1894, que a grafologia judicial ganhou imenso relevo, por se conseguir descobrir o autor dum documento falsificado. Crépieux-Jamin, que fazia parte dos peritos, em vez de se basear na comparação das simples letras, concentrou a sua atenção sobre a pressão, a forma, a direcção, a dimensão, a continuidade, a velocidade e o delineamento (ordem). A falsificação da letra de Dreyfus foi, então, atribuída a outro oficial, Esterhazy, que passou a ser considerado culpado. (continua mais tarde)

02 maio, 2008

O grafólogo na escola

A criança com dificuldades a nível da psicomotricidade (dificuldades de controlo neuromuscular, de coordenação óculo-manual e de organização espácio-temporal), do esquema corporal, da lateralidade apresenta necessariamente a escrita e a leitura deficitárias.
Compete ao grafólogo, através do exame da escrita, elaborar o respectivo diagnóstico, ajudar a criança a admitir e a resolver o problema que a aflige. Atitudes simples como a posição geral do corpo e da coluna vertebral, bem como, o modo de apoiar a mão sobre a folha e de pegar na esferográfica têm uma importância significativa na aprendizagem e no desenvolvimento da escrita e, por consequência, no aproveitamento escolar do aluno. Quanto mais tarde se der a intervenção do técnico, mais difícil se torna a recuperação. Atitudes essenciais serão o respeito pelo ritmo da criança e a incrementação duma sã auto-estima.
O domínio do grafismo parece simples e natural, mas é bastante complexo. As descoordenações motoras e posturas incorrectas reflectem-se na motricidade fina. Como teremos ocasião de explicar mais tarde nesta página, a aprendizagem da escrita está longe de se limitar ao género forma. Esta é importante numa fase inicial, mas não suficiente. Porque escrever é uma actividade mental, como já foi provado por diversos autores e a própria diária experiência o confirma. A personalidade do escrevente está presente em todos os seus actos e, de modo especial, no da escrita.
Dificuldades grafomotoras e de controlo podem ocasionar problemas de pressão, de rotação, de direcção e de distribuição das letras e das palavras no espaço. Pois que, escrever, mesmo no teclado, não é um simples acto mecânico, mas enquadra-se sempre num plano afectivo e intelectual. O gesto gráfico, apesar de se tornar uma rotina, é sempre condicionado pelo estado físico e psicológico. Portanto, para lá da expressão intencionalmente comunicativa da linguagem escrita, existe uma mensagem imanente nos próprios sinais gráficos que escapa a um linguista. Não necessitamos de analisar o conteúdo dum texto para descobrirmos que um jovem é inteligente. Basta reparar na personalização e na harmonia expressas na sua escrita. É praticamente impossível escrever com um conteúdo rico e original, se a grafia apresentar deficiências graves. Uma criança impulsiva, certamente, não fará uma escrita lenta e relaxada.
As causas das perturbações da escrita são, por vezes, múltiplas e profundas e estão quase sempre associadas a factores de ordem emocional. Por trás duma escrita caótica é preciso descobrir um escrevente perturbado que procura libertação.
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