12 março, 2009
Narrativa da Grafoterapia de uma Criança.
Quando, no final dos anos setenta li, pela primeira vez, o livro “Narrativa da Análise de uma Criança”, da doutora Melanie Klein, impressionou-me não apenas a técnica empregada, mas, principalmente, a riqueza de detalhes que o universo do pequeno Richard proporcionou para a orientação psicanalítica através dos desenhos que fez e que Melaine Klein interpretou e reproduziu em sua obra.
Naquela época já existia a intenção de trabalhar como terapeuta, mas não imaginava que seria através da Grafoterapia (reeducação do gesto gráfico) e, também, desconhecia todas as possibilidades que a reeducação do gesto gráfico proporcionava.
Em 2001 tive um cliente, que chamarei de Bernardo, e que se assemelhava, em muitos aspectos, ao menino Richard de Melanie Klein, com a diferença que, enquanto Richard tinha, verdadeiramente, dez anos quando iniciou sua análise, o meu cliente já tinha vinte e seis, porém, na maioria das vezes, atuava como se fosse uma criança indefesa, abandonada, triste e carente de atenção, como se tivesse apenas dez anos. Isto transparecia em seus comportamentos e em sua aparência, pois sempre se mostrava preocupado e infeliz, com atitudes e comportamentos infantis, aparentemente sem rumo e sem perspectivas.
As coincidências entre o paciente de Melanie e o meu cliente não ficavam apenas nisso. Tanto um quanto o outro, eventualmente, deixava seu estado de depressão e seus olhos recobravam vida e brilho, o que transformava por completo suas fisionomias. Ambos eram meninos precoces e enquanto Richard revelou, desde muito cedo, tendências musicais, Bernardo inclinou-se para as matemáticas, para os cálculos, para a filosofia e principalmente para o mundo da informática, sem deixar, todavia, de ter dotes artísticos e cultuar, inconscientemente, a estética e a semiótica.
Ambos não se davam bem no âmbito social e, no caso do meu cliente, havia como que um refugiar-se em pequenos círculos sociais fechados e com códigos muito próprios. As mães de ambos tinham tendência à depressão. Richard era o caçula da família; Bernardo também. Ambos foram crianças muito mimadas.
Todas essas coincidências favoreceram um mergulhar mais profundo de nossa parte no universo de Bernardo e após um estudo rigoroso de sua escrita, pelo método da grafoanálise de Augusto Vels, conversamos e estabelecemos uma série de sessões de Grafoterapia que felizmente não chegaram à nonagésima-terceira, como no caso do menino Richard, mas foram suficientes para uma mudança de comportamento e de atitudes desse meu cliente.
Bernardo era, antes de se submeter ao processo grafoterapêutico, como que um computador, com múltiplos núcleos que funcionavam independentemente. Sofria de hiperatividade mental e comportamental, com crises de depressão que se alternavam com as de euforia. Um caso típico de bipolaridade? Talvez... Faltava-lhe constitucionalmente, ritmo e o ritmo é algo vital!
Depois de algum tempo submetido ao processo, que envolveu uma série de trabalhos utilizando-se do desenho de gestos gráficos identificados como necessários para reeducar seu caráter e dar-lhe principalmente o ritmo vital, permitiu-se iniciar as mudanças necessárias para encontrar, hoje, certa estabilidade emocional, com focos e metas claras.
Para os que não conhecem ainda o método da Grafoterapia, recomendamos que procurem ler a respeito para descobrir como a técnica pode ajudar muitas pessoas, de forma prática e rápida. Uma leitura que não pode faltar é “La Curación por la Escritura”, de Vicente Lledó Parrés, Editorial LIBSA, Espanha.
Prof. Eduardo Evangelista
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Depoimento de Kau Mascarenhas, a respeito do artigo acima:
Meu bom amigo Du, achei muitissimo interessante e reveladora a sua postagem sobre o caso Bernardo. Nada mais natural imaginar que, uma vez sendo a escrita uma espécie de radiografia da alma, ela pode se configurar como detentora de padrões que serão percebidos em seres que têm problemas parecidos. Em PNL diríamos que ambos, tanto o "Bernardo" como o garoto americano, têm estruturas profundas semelhantes e por isso em sua comunicação(verbal,não-verbal ou escrita), ou seja, em suas estruturas superficiais, trarão vários pontos similares. Ainda apoiado na PNL que enxerga o ser humano em suas dimensões fisica,mental, emocional e espiritual, abraço com tranquilidade a proposta que vc pesquisa há tantos anos, de que a cura pode se dar a partir da mudança da grafia, embora eu ainda não conheça nada de grafoterapia. Para a PNL e outras diversas neurociências, é possivel se fazer um caminho menos ortodoxo com alterações no comportamento, no externo, para que comecem a haver mudanças na essência. É claro que o inverso é muito mais aceito dentro das escolas psicoterapeuticas tradicionais. Entretanto, para quem tem uma visão inclusiva e mais aberta, tanto um caminho como o outro podem dar resultados. E ao invés de se digladiar, podem até estar em paralelo. Querido amigo, parabéns pelo seu trabalho. Envio-lhe um carinhoso e forte abraço com meu desejo sincero de paz e de sucesso.
Kau Mascarenhas
http://www.kaumascarenhas.com/
(Kau Mascarenhas é consultor, instrutor e conferencista, Master Practitioner e Trainer em Programação Neurolingüística, com formação pela Sociedade Brasileira de PNL - SP. Tem pós-graduação em Consultoria Organizacional e atualmente pesquisa Psicologia Holistica e Teorias de Complexidade. Faz Pontes entre essas disciplinas e a PNL. Realiza regularmente seminários e conferências sobre Desenvolvimento Humano e Programação Neurolinguística. E o mais importante: é meu amigo!)
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Depoimento de André Leibl a respeito do mesmo tema:
Eduardo, excelente que tenha chegado a bom termo, mesmo parcialmente, o tratamento do teu paciente. Este tipo de caso deveria ser multiplicado por muitos para que fosse base de um trabalho de pesquisa em grafoterapia que fosse publicado, coisa que nos faz muita falta nesta Terra Brasilis. Alguns grafólogos usam a grafoterapia, mas não publicam seus trabalhos/resultados.Fica claro em teu depoimento que: 1) a análise grafológica foi o guia para o aponte dos distúrbios a serem tratados; 2)o tratamento foi feito através da reeducação da escrita -grafoterapia- mais o acompanhamento psicológico, sem o que não haveria a fixação do resultado final. Assim, deixo claro que não é o exercício gráfico a que o paciente é submetido, por exemplo, deixar de escrever agudo onde deveria escrever arredondado, que o tornará, digamos, menos agressivo. Issó só será introjetado se sua psique absorver essa postura através do trabalho do psicólogo. Digo isto poque muitos esquecem que grafoterapia é a reeducação da escrita e não pela escrita. Além do livro que você recomenda, do Lledó, dele mesmo e Víctor Anduix existe o Escrita y Salud, base inicial do método grafoterapeutico de Lledó, ed.Obelisco 1997, Buenos Aires,319 pgs. Entretanto, ele não é bem visto pela comunidade grafológica européia, por motivos que me escapam. Um livro amplamente aceito é o do Roberto Olivaux, Pédagogie de l´écriture et graphothérapie, ed. Masson, 1988, Paris, 171 pgs..
André
Erwin André Leibl é um dos mais importantes grafólogos do Brasil, ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Grafologia no período de 1998 a 2001. É um dos principais tradutores de grafologia em língua portuguesa. A partir do mês de Abril vindouro estará lencionando em São Paulo, de forma pioneira no Brasil, um Curso de Iniciação em Grafologia pelo Método Italiano, fazendo um confronto entre o método de Girolamo Moretti com o de Crepieux-Jamin. Interessados podem obter informações através do e-mail Grafologia.curso@enfoquerh.com.br
(Tenho a honra de privar de sua amizade e atenção.)
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